Séries e Filmes

Kevin Feige não se adaptou ao ritmo frenético, afirma jornalista

Kevin Feige e a quantidade exarcebada de produções da Marvel Studios

Jeff Sneider, jornalista do The Ankler, relatou em suas redes sociais, por meio de fontes internas da Marvel Studios, Kevin Feige estaria “espalhado demais” tentando desenvolver os muitos projetos da Marvel com o grau de qualidade que o público espera de uma produção do MCU. Isso reflete a disparidade enorme de produções da Marvel desde a conclusão da Saga do Infinito: o estúdio agora está produzindo, em média, oito projetos por ano, bem mais que o dobro de sua produção de lançamentos por ano antes de 2020.

Só para termos ainda mais comparativos, a Saga do Infinito englobou 22 filmes da Marvel Studios em um intervalo de tempo de 11 anos. Enquanto a nova saga da Marvel Studios, intitulada “Saga do Multiverso”, lançou 17 produções em apenas 2 anos (2021 e 2022), com uma reserva de outros 13 vindouros títulos, totalizando 30 filmes e séries ao longo de 5 anos de existência da Saga do Multiverso (2021 até 2025). O motivo da grande quantidade de títulos é a nova vertente da Marvel Studios ao Disney Plus, com séries originais sendo incluídas no planejamento.

20220723 feige5
Kevin Feige – Imagem: O Vício

Devido a seus deveres exponencialmente aumentados , Kevin Feige não tem a oportunidade de se envolver tanto no processo diário dos projetos do MCU quanto esteve nos últimos 14 anos. Com tantos projetos sob seu controle, Kevin Feige é incapaz de estar tão envolvido em uma capacidade prática como costumava estar, concentrando-se mais agora na história mais abrangentes do que em cada parte individual da narrativa. E essa agenda lotada de Kevin Feige, somando seu complexo trabalho de narrativa única e interconectada e as frustrações técnicas de produção – tanto habitualmente em dias de gravações e pós-produções quanto em títulos com uma estagnação elevada, como “Blade” -, esta´deixando-o impaciente e sobrecarregado.

É muita gente agora, mas como é, é divertido e louco ao mesmo tempo, é super empolgante porque somos realmente parte do processo, realmente parte do processo.

É um pouco diferente agora porque o estúdio é maior, e talvez tenhamos um pouco menos de acesso às pessoas que costumávamos ter acesso o tempo todo. Victoria [Alonso] está sempre lá, então ela está sempre nas reuniões, em todas as leituras que estamos fazendo. Kevin Feige, um pouco um pouco menos agora porque ele está tão ocupado com a história e tudo mais, mas ele costumava vir a todas as leituras de efeitos visuais conosco, o que era ótimo, realmente ótimo.

Stephane Ceretti, supervisor de produção de efeitos visuais da Marvel, ao podcast Befores & Afters
kevin feige
Kevin Feige no Entertainment Weekly – Imagem: ET

Embora a maioria das produções recentes da Marvel Studios tenha sido tranquila, algumas tiveram problemas que podem ter impactado negativamente os cortes finais: “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” passou por raras seis semanas de refilmagens , enquanto “Thor: Amor e Trovão” descartou muitas cenas envolvendo atores importantes na pós-produção. Ambas as sequências receberam piores pontuações de audiência do que seus respectivos antecessores.

Enquanto isso, “Invasões Secretas”, que deve estrear na primavera de 2023, está passando por quatro meses de refilmagens não planejadas após uma troca de roteiristas; “Blade” teve o desligamento precoce de um diretor, paralisando seu início de gravações e gerando um descontentamento de seu protagonista Mahershala Ali; e “Armor Wars” com praticamente nada acertado e tendo, ainda, uma grande mudança em seu formato narrativo.

Desse modo, há duas alternativas para Kevin Feige: uma diminuição de suas obras ou uma contratação de um braço direito. Sobre o primeiro tópico, um apoio popular de fãs concordariam e agradeceriam, e poderia ser voltado tanto à execução de produções de heróis que sejam somente os mais pedidos pelos adoradores da Marvel, quanto à prolongação maior de seus títulos, não sendo necessário apenas 5 anos para uma conclusão de uma saga tão significativa como o Multiverso exige.

Talvez usando o mesmo intervalo de 11 anos de produção – utilizada na Saga do Infinito – ou menos, como 8 ou 9 anos, para concluir a Saga do Multiverso, faria com que os títulos fossem melhor distribuídos, deixando os impressionantes 9 títulos por ano para, possivelmente, 5 títulos.

Já o tópico de um apoio ao Kevin Feige, ajudaria em termos supervisionários: não precisaria necessariamente de alguém criativo como Kevin Feige, mas de um ‘arauto’ ou ‘representante’, que atuaria como seus olhos nas produções do estúdio, continuando a ocupar um chefiamento nas horas práticas.

GettyImages 950533956.0
Kevin Feige com Stan Lee – Imagem: O Vício

Falando em efeitos especiais…

Não tem como abordar de crises da Marvel Studios sem destacar talvez a principal delas: os trabalhos abusivos que profissionais de efeitos especiais passaram durante suas colaborações na Marvel Studios. Para quem não se lembra, tudo começou com uma entrevista que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) concedeu ao Vanity Fair, em que brincou sobre seu personagem Korg, uma criatura de CGI, e seu realismo, dizendo “Eu preciso ser mais azul?”. Tal brincadeira, somada com as enormes críticas sobre os efeitos especiais de suas produções provocadas pelos fãs – especialmente nos títulos “Viúva Negra”, “Miss Marvel” e “Mulher Hulk” -, rendeu a várias manchetes e denúncias de profissionais de VFX que trabalharam para a Marvel.

O portal The Gamer acumulou diversos relatos de fóruns do Reddit em seu artigo, mostrando dezenas de profissionais artistas de efeitos especiais relatando as mesmas problemáticas: demandas enormes por trabalhos em curtíssimo tempo; ambientes com alta pressão que levam a esgotamento e moral baixa; orçamentos baixos que retiram trabalhadores mais experientes e caros de projetos futuros da Marvel; mudanças constantes no resultado desejado, com alterações gigantes pedidas em cima da hora; e falta de reconhecimento.

20220812 ovicio vingadores marvel studios
Kevin Feige – Imagem: O Vício

Além do The Gamer, a CNET e Vulture também elaboraram artigos somente com denúncias de artistas queixando dos abusos retratados no parágrafo acima. Sendo dominantes de bilheterias ao redor do mundo – não somente com grandes retornos feitos por seus filmes, mas também por ser uma propriedade intelectual de outra gigante e rica empresa, a Walt Disney Company – e grande utilizadores de CGI para um bom funcionamento e agrado dos fãs em seus filmes, o cenário foi muito mal repercutido na classe cinematográfica. Não só pelo escândalo e poder da Marvel atualmente no cinema contemporâneo, os abusos retratados impacta diretamente no resultado final dos filmes, em que a qualidade dos efeitos é altamente prejudicada, além de causar danos aos profissionais envolvidos.

“Estou com a Marvel há quase três anos seguidos. Bem-vindo ao sétimo nível do inferno”

“Trabalhei em vários projetos para a Marvel e outros filmes de sustentação. Durante muitos anos, trabalhei longas horas, principalmente sem remuneração. Não mais. Em nenhum momento trabalho de graça, nem vou trabalhar a noite toda por uma emergência percebida. Nós literalmente inventamos terceiros atos inteiros de um filme, um mês antes do lançamento, porque o diretor não sabia o que eles queriam. Até a Disney, mãe da Marvel, é muito mais fácil de trabalhar em seus filmes live-action ”

Junção de Tweets anônimos apurados pelo The Gamer

“Trabalhar em projetos da Marvel acaba sendo incrivelmente estressante, e esse é um problema amplamente conhecido em toda a indústria de efeitos visuais, não é específico para nenhuma casa de efeitos visuais.

Eu tive que confortar pessoas chorando em suas mesas tarde da noite por causa da pura pressão envolvida, e rotineiramente meus colegas me ligavam tendo ataques de ansiedade. Eu ouvi pessoalmente de muitos artistas que eles pedem para evitar séries da Marvel em seus futuros trabalhos.”

“(…) Você já está sobrecarregado, mas a Marvel está pedindo mudanças regulares muito além do que qualquer outro cliente faz. E algumas dessas mudanças são realmente importantes. Talvez um mês ou dois antes de um filme sair, a Marvel nos fará mudar todo o terceiro ato.”

Trechos de uma fonte apurada pelo CNET
CaptainAmerica CW DanDeleeuw ITW 02
Kevin Feige – Imagem: Coliseu Geek

Em um contexto histórico, os trechos tiveram relatos após “Vingadores: Ultimato”, com a iniciação de uma nova saga para as telonas e para as telinhas, principalmente – sendo esse o principal motivo de tanto desgaste. Os artistas de efeitos visuais chegaram a dizer que suas cargas de trabalho chegavam de 60 a 80 horas semanais por “múltiplos meses seguidos”, e a equipe da Marvel de pós-produção para seus filmes blockbusters são de duas pessoas, enquanto o normal é um time de 10 artistas.

Sabendo que relatos anônimos acaba, diminuindo a força e a expressão dessa batalha, por não ser garantia que a pessoa, de fato, cooperou com o estúdio e podendo apresentar denúncias falsas; alguns artistas visuais deram às caras e contaram suas experiências de trabalho com a Marvel, como foi o caso de Dhruv Govil. Respondendo a matéria do The Gamer, Dhur, que trabalhou em “Guardiões da Galáxia” e “Homem Aranha: De Volta ao Lar”, respondeu:

GH 15832 R
Kevin Feige – Imagem: E-Pipoca

Trabalhar em séries da Marvel foi o que me tirou da indústria de efeitos visuais. Eles são um cliente horrível, e eu vi muitos colegas desmoronarem depois de trabalhar demais, enquanto a Marvel aperta os parafusos

Dhruv Govil em suas redes sociais

No portal Gizmodo, um profissional de efeitos especiais, de nome David, apontou sua dinâmica de trabalho na Marvel, afirmando ter trabalhado por quase seis meses com uma carga horária de 64 horas semanais “em uma boa semana”, passando além do horário contratual. Além disso, David se mostrou incisivo em como que a Marvel Studios pode melhorar.

“A Marvel precisa treinar seus diretores para trabalhar com efeitos visuais e ter uma visão melhor desde o início. Outra coisa é a sindicalização. Há um movimento crescente para fazer isso, porque isso ajudaria a garantir que as casas de efeitos visuais não possam aceitar lances sem ter que considerar quais seriam os impactos. Porque na maioria das vezes, é como se você trabalhasse em um programa da Marvel, e trabalhasse nisso por baixos valores só porque é legal.

O pior foi quando Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato estavam saindo. Eles realmente anteciparam o lançamento em um mês, mas não nos disseram. Lembro-me de estar no chão com minha equipe, quando um dos meus artistas veio até mim e disse: ‘Ei, você viu isto?’, e ele me mostra um artigo dizendo que a Marvel antecipou a data de lançamento dos filmes em um mês. (…) Descobrimos através de um comunicado à imprensa que tínhamos um mês a menos para trabalhar em todas as tomadas”

David para o portal Gizmodo
PIX 2 ml2 shots ebc 1260 4.1119 copy
Kevin Feige – Imagem: The Direct

O movimento contra a Marvel foi tão intenso na internet que fez a própria Marvel planejar sua exclusiva sala de edição e de efeitos visuais, de acordo com a Screen Rant. Outras informações da IGN também forneceram que a Marvel reconheceu seu erro, e está encontrando um jeito de dividir melhor os trabalhos que eles mandam para as empresas de efeitos especiais, como por exemplo, mandar trechos específicos para apenas uma empresa, ao invés de atolar um estúdio só com várias sequências diferentes.

A Marvel já começou a dividir o trabalho de forma mais justa entre os estúdios diferentes. […] Se você pega o terceiro ato, você vai ter a maior dor. Tudo vai mudar de uma maneira muito dramática, o que significa em mais trabalho. E se um estúdio tiver mais que o terceiro ato, é isso. Agora, parece que eles estão dividindo as coisas de um jeito mais lógico. Dividindo o trabalho dessa maneira dá mais chances às pessoas de obterem sucesso. Isso é uma coisa que tem sido positiva.

Trecho do artigo da IGN
eb7a09c1309d63ccc9ad2cc71e9108cc
Kevin Feige – Imagem: E-Pipoca

O que você achou desse post?

Gostei
1
Adorei
1
Mais ou menos
0

Comments are closed.

0 %