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Vidas Passadas | Prepara seu lencinho para o melhor romance do ano [Sem Spoilers]

O amor é o maior dos sentimentos, tanto que sua compreensão transcende o campo sentimental e depende do comportamento. Amar é também uma escolha, é estar apto a mudanças e é algo que deve ser nutrido sempre. Por isso que talvez seja vista como complexa. Vidas Passadas, dorama romântico da estreante Celine Song na direção cinematográfica, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (25), aborda justamente tal complexidade: um relacionamento tende mais pela paixão mantida no peito, pelo momento que vive ou por suas ações? O quanto de conexão é preciso para assumir esse passo?

No filme, Nora (Moon Seung-ah) é uma pré-adolescente na Coreia, descobrindo o amor com seu melhor amigo, Hae Sung (Leem Seung-min). Porém, eles se separam quando a família de Nora se muda para Toronto. 12 anos depois, Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo) retomam a amizade pela internet. É só décadas depois, que se reencontrarão em Nova York, onde ela é uma dramaturga casada com um escritor, Arthur (John Magaro). Nessa uma semana de reencontro, Nora e Hae Sung enfrentam o tempo perdido e as noções do amor, destino e as escolhas que fizeram em suas respectivas vidas.

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Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)

Vidas Passadas fez sua estreia oficial em 2023, no Festival de Sundance, e ganhou muito destaque pelos críticos: o troféu de Melhor Filme Independente e indicações de diretora estreante e atriz no Gotham Awards – principal premiação voltada a filmes independentes -; ganhou o prêmio de Melhor Filme Independente na Associação de Críticos de Cinema de Nova York; indicações nas 5 principais categorias do Independent Spirit Awards; e eleita entre os melhores do ano de diversos veículos de imprensa, como o Indiewire, The New York Times e as Revistas TIME e Vanity Fair.

Com múltiplas indicações ao Globo de Ouro 2024 e indicado ao Oscar 2024, produzido pela A24 e distribuído pela Califórnia Filmes, a Nerds da Galáxia teve o privilégio e conferir a obra no dia 17 de janeiro e conta com mais detalhes (sem spoilers) sobre o filme.

NotaA crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta e/ou uma resposta definitiva para a sua dúvida sobre assistir ou não à obra. Sempre priorize ver para estimular o trabalho dos realizadores e desenvolver sua formação de opinião. As informações contidas foram apresentadas em sinopses e trailers.

Poster Vidas Passadas
Pôster de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)

Crítica sem spoilers – Vidas Passadas

As produções sul-coreanas são famosas por suas qualidades narrativas, principalmente em drama e romance. Mesclando uma coprodução com o aclamado estúdio A24 – que também tem veias parecidas sobre a forte preocupação com produções independentes e filmes com grande foco narrativo -, Vidas Passadas promete e cumpre com primor o que se espera de um dorama. Com uma trama simples sobre reencontros de antigos amantes, o roteiro e direção de Celine Song são cruciais para embargar altas dosagens de emoção nas cenas.

O filme em si aposta mais na presença do drama na história, mas não significa que o humor é deixado de fora – principalmente nas interações entre Greta Lee e Arthur. O ponto é que Vidas Passadas traz um grande feito ao trazer com muita simplicidade um recorte tão complexo – e doído – quanto o amor platônico, ser largar mão dos pontos clássicos de um romance.

Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)
Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)

Além da narrativa “pés no chão” sem exagerismos, Vidas Passadas recorre a um elemento interessante vinda de um ditado no Budismo, chamado “In-Yun” (Vida Passada), que complementa o enredo de Nora e Hae Sung tanto emocionalmente (dimensificando a conexão entre as duas personagens) quanto narrativamente (além de relacionar com o título do filme, o conceito do In-Yun vira elemento catalisador e comparativo entre a sintonia de Nora com seu marido e com sua primeira apaixonite), deixando mais enriquecedor, em termos sentimentais, e imprevisível – ponto mega positivo em romances de almas gêmeas vibes.

Vidas Passadas entrega atuações boas com maior destaque para a química entre os três protagonistas. Você percebe a mesma carga amorosa entre Nora e Sae Hung e Nora e Arthur, mas com especificidades que vão além do óbvio – como o idioma que a Nora fala com cada um. Desde o tom de voz, o olhar e as conversas foram pensadas de formas distintas, claramente fazendo alusão ao background polarizado de Nora: inicialmente como uma menina nascida e criada durante sua fase infanto-juvenil na Coréia do Sul, e sua adolescência e amadurecimento quanto mulher nos Estados Unidos e Canadá.

Por último, não há como mencionar o emocionante diálogo no bar entre Nora e Hae Sung dentro do contexto das camadas de In-Yun que “definem” se amores serão passageiros ou duradouros.

Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)
Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)

Talvez o que poderia ser melhorado são os time-skips em Vidas Passadas. Como dito na sinopse, há dois recortes no tempo, o que considero muito para um filme de 1h 40 minutos e sobetudo para um romance, embora que o ensejo seja determinante para a trama e para aumentar a tensão envolvendo o encontro de Nora e Hae Sung.

Outro ponto negativo que destaco foi a rapidez na construção do relacionamento entre Nora e Arthur- o que, na verdade, faltaram mais cenas de compatibilidade entre os dois no início – e o encontro entre Nora, Arthur e Hae Sung – que acontecera só na parte final do filme, passando uma possível oportunidade de cenas mais engraçadas e/ou dramáticas que acrescentariam camadas ao longo da história. Complementando a relação corrida entre Nora e Arthur, sinto que o filme apressou o relacionamento entre eles já para introduzir uma tensão do encontro entre os personagens, porém faltou o telespectador sentir o que tinha de especial no Arthur, o que já dividiria o público e daria mais tempo de tela para o John Magaro.

Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)
Cena de Vidas Passadas. (Foto: Reprodução/ California Filmes)

Conclusão

Vidas Passadas é um belo e emocionante romance sobre amores que não duram, mas que sempre resistirão no nosso peito – e tá tudo bem. Por mais que seja muito doído e até não entendido, é impossível apagar uma grande história na cabeça e no coração, logo torna-se normal carregarmos resquícios de uma antiga paixão conosco eternamente. Aconselho assistir com um lenço perto caso adore romances e se seu momento amoroso não esteja bem… Vidas Passadas, com o tempo, mostra-se terapeutico e um exemplo de maturidade para comprendeermos essa complexidade tão intensa como o amor e suas oscilações. O filme dá uma sensação de “quero mais” diante de sua leveza e o excelente trabalho dos atores principais.

Vidas Passadas (2023)

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