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Segredos de um Escândalo | Construído para premiações, mas não tanto pro público

A metade de janeiro e o início de fevereiro costuma ser uma época favorável para filmes mais independentes, com Segredos de um Escândalo seguindo essa margem. Indicado no Globo de Ouro 2024 nas categorias de ‘Melhor Filme de Comédia e Musical’, ‘Melhor Atriz em Comédia e Musical – Natalie Portman‘, ‘Melhor Ator Coadjuvante em Cinema – Charles Melton‘ e ‘Melhor Atriz em Comédia e Musical – Julianne Moore‘, além de concorrer à Palma de Ouro de Cannes 2023, o filme chegou com muito embalo pela indústria, propondo seriedade a um assunto delicado e inspirado em fatos reais.

Segredos de um Escândalo conta a história de Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore), uma ex-professora que foi parar nos jornais dos Estados Unidos por sua relação amorosa com Joe, um aluno de 13 anos. Depois de 20 anos do caso, o casal Gracie e Joe (Charles Melton) – agora com seus 36 anos e pai de 4 filhos crescidos – terá que reviver o passado turbulento, mediante um filme que contará suas histórias, cuja a famosa atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman), interpretará Gracie no longa. Para se preparar ao papel, a atriz visita a campo a família e tenta compreender a relação dos dois.

O filme é dirigido por Todd Haynes, considerado o pioneiro do “New Queer Cinema”, que levanta produções LGBT+, e multi indicado em grandes premiações do cinema, como o Emmy Primetime, Oscar, Leão de Ouro, Palma de Ouro e BAFTA. Já o roteiro ficou com Samy Burch, que por sua vez foi baseada em uma história contada pelo roteirista em conjunto com Alex Mechanik. Com 2 horas de duração, a Nerds da Galáxia conferiu o filme na quinta-feira passada (11) e traz uma crítica sem spoilers de Segredos de um Escândalo, filme que chegará nos cinemas brasileiros na quinta (18). A Netflix é distribuidora do longa, portanto chegando posteriormente ao catálogo do streaming.

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NotaA crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta e/ou uma resposta definitiva para a sua dúvida sobre assistir ou não à obra. Sempre priorize ver para estimular o trabalho dos realizadores e desenvolver sua formação de opinião.

Crítica sem Spoilers – Segredos de um Escândalo

Apesar de concorrer nas categorias de comédia e musical, Segredos de um Escândalo não se enquadra nesses gêneros, o que não me assusta pelo fato do Globo de Ouro, até alguns anos atrás, estar ainda manchado dentro de um consenso especializado em cinema. O filme, na verdade, é um drama, com características melodramáticas, pautada sobre a moral.

O próprio enredo é um exagero: uma professora que se apaixona pelo seu aluno; a recepção negativa da imprensa, de terceiros e da própria família de Gracie perante o ocorrido; o conflito entre a família “antiga” de Gracie – composta pelo seu ex-marido e dois filhos – e a sua nova construída com Joe, no qual o fruto deste amor proibido gerou 4 crianças; o clima de estranheza e peso com a presença de Elizabeth e suas cenas de incorporação a personagem… A incredulidade em Segredos de um Escândalo é um sentimento que reina durante toda sua duração, potencializado ao lembrarmos que esta história já aconteceu mundo afora.

Trazendo este peso chocante e real, somado ao elenco e ao gênero poderoso em Hollywood e com algumas homenagens para a própria classe cinematográfica – representada pela profissão da personagem de Portman como atriz comprometida -, Segredos de um Escândalo tem todos os trejeitos de um filme meramente produzido visando as premiações e um lugar de destaque na imortalidade cult do cinema. E isso não é tão positivo assim – pelo menos para este caro redator. Acima de tudo, um filme deve ser responsável por entreter e tocar seus telespectadores, e não contribuir com os insistentes estereótipos negativos, como o Drama, especialmente o melodrama, já carrega por grande parte dos cinéfilos mais descompromissados.

Segredos de um Escândalo não tenta criar sua própria originalidade, parecendo um apunhalado de peças Lego de outros filmes melodramáticos de Hollywood. O longa estrelado por Natalie Portman e Julianne Moore mira numa poeticidade – o que acaba embelezando a experiência, tais quais as diferentes formas de enquadramento e jogadas de cãmera e uma analogia entre o personagem Joe e a borboleta que ele cuida -, porém é sem um propósito narrativo, afinal não acrescenta em nada na trama e se torna rasa para um filme que prometia tanto por suas indicações e por seu elenco estelar.

Quanto à atuação, claro que Julianne Moore e Natalie Portman, as protagonistas de Segredos de um Escândalo, fizeram uma boa atuação. Mesmo para o cacife alto que temos com a presença dessas grandiosas atrizes, com Oscar e Emmys em suas prateleiras, um desmpenho “bom” não é um fator tão positivo, não é? Ao contrário da trilha sonora, que foi muito bem trabalhada e trouxe mais vivacidade nas cargas dramáticas.

Como outro ponto positivo de Segredos de um Escândalo, trago a constância do papel de Portman como a atriz Elizabeth Banks. Foi muito bacana poder enxergar uma parte do trabalho de um ator/atriz que não é vista pelo público: o estudo do personagem. Tal ideia foi muito criativa dentro do enredo, pois contribui para a estranheza do melodrama – na verdade, foi o pilar central para toda a narrativa – e traz um ponto de virada de Natalie Portman, cenicamente. Só acho que poderia ter sido mais evidente no final, mas foi um contraponto interessante.

Segredos de um Escândalo (2023)

6.5

Mesmo apresentando uma estrutura de filmes aclamados e com uma coerência em seu início, meio e fim, Segredos de um Escândalo traz uma monoticidade, ficando uma impressão de "esperava mais". As atuações são boas, a trilha é o ponto forte, porém não levanta originalidade.

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1 Comment

  1. Texto perfeito em todos os detalhes! Parabéns pela crítica tão bem construída!!!

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