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Barbie | Trama inteligente e humor ácido superam o hype criado pelos fãs? (Crítica sem Spoilers)

Já separou seu rosa aí? Acima de tudo, já reservou seu dinheiro para o que está vindo por aí nessa semana? Tanto “Oppenheimer” quanto Barbie chegam nesta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros, movimentando uma rede de incentivo ao cinéfilos que buscam assistir ambos no mesmo dia e até fóruns de discussão sobre qual longa será melhor. Independente da preferência, parece uma decisão obrigatória, como amante da sétima arte, marcar sua presença no mais novo filme de Greta Gerwig (‘Adoráveis Mulheres’; ‘Lady Bird: Hora de Voar’). O que para vocês, que não puderam ainda conferir a obra, é uma questão estrutural, para mim se torna muito mais além.

Com aproximadamente 1 hora e 54 minutos de duração, “Barbie” compõe uma rede repleta de artistas de alto calibre hollywoodiano. Começando pela parte cênica, com os talentos de Margot Robbie e Ryan Gosling (ambos detentores de dois Oscar e presentes na prateleira de maiores atores e atrizes da geração) e as figuras marcantes de Simu Liu, Will Ferrell, Kingsley Ben-Adir e Helen Mirren em suas respectibas funções. O lado criativo é tão bom quanto, com a já mencionada e três vezes indicada ao Oscar Greta Gerwig na direção e participando do roteiro, juntamente com seu marido Noah Baumbach (‘Histórias de um Casamento’; ‘Frances Ha’), também multi-indicado ao Oscar, Palma de Ouro e Leão de Ouro.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

É certo de que a junção improvável de vários talentos, a ideia exótica de um filme focado numa boneca com várias skins e excelentes primeiras impressões lançadas na mídia contribuíram para que “Barbie” alcançasse tanto hype e aguardo. Somado a campanha massissa aderida pela Warner Bros. Discovery, “Barbie” pavimentou uma mansão na cabeça do público e sendo pauta de notícia diariamente, o que, de certa forma, complica mais do que ajuda por gerar uma expectativa muito grande por cima de um produto. Assim, consequentemente, é mais fácil de arrancar desapontamentos.

O Nerds da Galáxia agradece a Warner Bros. Discovery pelo convite. Confira mais nossa crítica sem spoilers abaixo.

NotaEstá é uma crítica sem spoilers, a fim de não estragar sua experiência em assistir ao filme. A crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta ou uma resposta definitiva para a sua dúvida de assistir ao filme ou não. Sempre priorize ver para estimular o trabalho dos realizadoresAs informações contidas na crítica já foram apresentadas em sinopses e trailers.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

Se prepare: Barbie vale tanto hype?

Trabalho performático

Para responder a pergunta acima, vamos colocar alguns tópicos importantes. Primeiramente, vamos falar sobre as atuações. Com certeza os olhares estão mais vidrados a Margot Robbie e Ryan Gosling como Barbie e Ken Estereotipados, que arrebentam nas atuações e lideram a cena, principalmente com um misto de um belíssimo trabalho entre uma postura totalmente robótica – de simulação a um brinquedo, sem parecer forçado – e sua humanização ao decorrer do filme – trazendo tons dramáticos e cômicos que já associamos com o talento de Robbie e Gosling.

Nas primeiras exibições de “Barbie“, os críticos destacaram uma atuação muito fora da curva de Ryan, até cogitando indicação ao Oscar 2024. Acredito que indicação não seja a esse ponto, mas que seu trabalho será lembrado eternamente, isso com certeza posso reafirmar. O Ken de Gosling se entrega totalmente ao filme, com uma cena musical inclusive bem escrita e interessante. Uma indicação cênica deveria vir do papel de Margot Robbie, que trouxe com muita expressão, leveza e realismo as primeiras impressões humanas e desconstruções em uma boneca totalmente dentro da caverna de Platão, no qual associei a mesma abordagem presente em “Show de Truman” sobre a percepção monótona do ambiente em sua volta e uma vida irreal vivida pelo protagonista.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

Fora os protagonistas de “Barbie”, preciso destacar os trabalhos de Kate McKinnon como a Barbie Estranha e Will Ferrell como o sócio da MATTEL. Os dois artistas já nasceram com uma sagacidade humorística, sendo claro a liberdade que deram para McKinnon e Ferrell durante as filmagens de esbanjarem seus talentos, o que de fato aflorou e muito as cenas e renderam muitas gargalhadas.

Ryan Gosling é outro que encabeça a comédia presente em “Barbie”, realmente sendo uma carta-coringa perante todo o filme: seja uma atuação mais depressiva, alto-astral, caricata ou engraçada, Gosling bateu no peito e abraçou a ideia. A narradora Helen Mirren brilha a todo momento e descaracteriza completamente a narração, adicionando muita imersão às comédias desfarçadas de críticas sobre a padronização e a idelização do perfeito e muitos momentos de quebra de quarta-parede.

America Ferrera e Ariana Greenblatt como as humanas Gloria e Sasha acrescentaram bastante nas cenas, em especial a America, que protagonizou um monólogo excelente sobre o paradoxo comportamental que os homens instauram nas mulheres, a mesmo nível que Jo (Saoirse Ronan) protagoniza em “Adoráveis Mulheres” – espero que seja uma figura carimbada de Greta para todas suas produções. No geral, todo o elenco concede boas atuações e têm seus momentos de brilho.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

Esqueleto e imersão

Para mim, o ponto mais forte de “Barbie” é, sem dúvidas, a genialidade do roteiro feito pela dupla Greta Gerwig e Noah Baumbach. O filme é uma forte carta de mensagem ao feminismo e à equidade, mas também à idealização da perfeição, à delicadeza de nossas posturas perante o outro e ao contentamento fácil sobre tudo que é nos dito pela primeira vez, sem uma tentativa de questionamento ou uma busca de aprofundamento. Sem mencionar a evolução da Barbie de Margot e Ken de Gosling narrativamente, muito bem desenhado e aprofundado.

É impressionante as transições de comédia e drama durante todo o filme, algumas vezes até juntas e misturadas, e sua potência na cena. Ou seja, a troca mútua entre elementos dramáticos e mais pesados e traços cômicos bem divertidos é constante e ainda sim cada uma consegue impactar 100% na experiência, sem acontecer atropelos e cenas “jogadas” no filme para compor duração. Muito pelo contrário: “Barbie” já mostra que não há espaços para enrolações, com um ritmo gostosamente frenético.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

A ideia de uma personagem como a Barbie, que leva consigo a personificação da positividade, perfeição e do requinte, atravessar para o mundo real e ver sua contraposição, o outro lado da moeda – muito bem explicitado quando a Barbie conhece Sasha na escola – já era bastante interessante pelo ineditismo e as mensagens que poderiam ser extraídas na história, ficando ainda mais simbólica com todo o trabalho cuidadoso da equipe de figurino, design de arte e edição, que trouxe ainda mais vida.

Mais vida e realismo. Pela ideia de um tom mais sério envolta da boneca, muitos diretores e roteiristas poderiam ter feito uma “atualização” ou uma “repaginada”, seja com a Barbie já inserida no mundo real, com traços mais humanizados etc. Já Greta e Noah entenderam que a fidelidade atraíria os fãs da boneca e seria uma ótima ambientalização para o que estava prestes a acontecer – decisão mais que acertada.

Por isso, uma riqueza de detalhes sobre o modus operandi das Barbies na Barbielândia totalmente casados com a maneira que brincamos com os nossos brinquedos na infância – nos trejeitos das bonecas ao tomar café, tomar banho e descer as escadas, também na estrutura da casa em si e de outros estabelecimentos – foi tão crucial para a história e para o público, que pôde comprar facilmente a proposta e ainda se divertir muito com as cenas engraçadas e o humor inteligente e ácido do filme. Até o plot do filme remeter ao jeito como o humano brinca com você, entrelaçado aos sentimentos, causa essa sensação positiva de uniformidade. Não vou negar que me lembrei muito de Toy Story nesse ponto.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

Último ponto que preciso trazer nesse subtítulo é o recurso metalinguístico e sua desvinculação à lógica. Muito foi falado que “Barbie” tem uma trama multiversal. A Barbielândia é como se fosse uma outra realidade dentro da Terra, que gera uma relação diretamente proporcional entre ambos. Independente se é uma realidade alternativa ou um continente escondido, o filme não se prende a coisas esdrúxulas, como explicar a razão pelo qual existe uma Barbielândia e como seria possível uma Barbie escapar para o mundo real e essas coisas. Entendemos que a mania de explicar tudo em um filme é muito recorrente, por isso Greta e Noah deram um basta, focando na história, sua mensagem e, principalmente, na experiência.

O que leva ao ponto metalinguístico. Terão cenas do filme com brincadeiras envolvendo a MATTEL e a própria Warner Bros. Discovery, quase que da mesma vibe que os filmes do Deadpool ironizavam a DC e a Fox. Bem, até quebras de quarta-parede. São momentos que elevam a comédia de “Barbie”, extraindo ao máximo a criatividade.

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(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

O filme não é perfeito…

Por mais que minha experiência foi fenomenal, na minha visão, “Barbie” tem alguns pontos falhos. Primeiramente pela inserção de grandes atores e atrizes bons sem muitas oportunidades de fazerem diferença. Claro que por serem outras versões de Barbies e Kens, a proposta é um pouco mais disvirtuosa, mas enxergo que se fosse assim escalava outros artistas mais iniciantes ou de menos calibre.

O plot de America Herrera pareceu muito óbvia, podendo ter um pouco mais de surpresa. Na verdade, por mais que eu goste de filmes menos demorados e mais ágeis, soou muito veloz a introdução das personagens de America e Ariana, com a Sasha se rendendo muito fácil ao ambiente, que pode ser até entendido, porém causou uma certa estranheza a troca de mentalidade de forma tão instantânea.

(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

O final do filme foi muito surpreendente e deveras engraçado, contudo tive uma sensação de como se os acontecimentos de “Barbietivessem voltado à estaca zero como inicialmente, sem uma mudança visível na ambientalização ou de forma nítida. Também falo sobre a falta de necessidade de uma campanha tão robusta para promover “Barbie“, afinal os trailers, teasers e fotos divulgadas pela própria Warner divulgaram muitas informações que seriam melhores de ver pela primeira vez nos cinemas e o público já estava muito convencido desde muito antes.

Eu poderia até citar algumas cenas bem comuns do cinema, como as famosas lições de moral que o herói ensina para o vilão e o arrependimento do antagonista e blá blá blá, mas creio eu que isso não pode ser excluído dos filmes hollywoodianos. Praticamente faz parte da Jornada do Herói. Não tem como abdicá-los tão facilmente e são momentos importantes dentro do enredo.

(Foto: Reprodução/ Warner Bros. Discovery)

Tá, agora pode responder a pergunta, por favor?

Em suma, deixo registrado que ABSOLUTAMENTE SIM, vale a pena ver “Barbie” nos cinemas. O hype do filme não estraga em nada a experiência, pois é realmente tudo que esperamos – na verdade, até mais. “Barbie” será lembrado para sempre na indústria de Hollywood pela inovação, criatividade, inteligência e descompromisso pela lógica ou por um filme totalmente sério que busca reeducar a sociedade. Toda obra ensina e reflete sobre alguma parcela social, e por que não com boas doses de humor sarcástico e afiado? O filme é, com certeza, um dos três melhores de 2023 e a comédia mais engraçada do ano. Pode vestir seu rosa com orgulho!

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Barbie (2023)

9.5

Depois de ser expulsa da Barbieland por ser uma boneca de aparência menos do que perfeita, Barbie parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade.

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