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Herói de Sangue | Filme com estrela de ‘Lupin’ carrega dores da 1ª Guerra direcionado aos imigrantes africanos

Os filmes de guerra ganham sempre uma atenção especial do público e da crítica especializada por sua alta dosagem de produção/montagem e elementos dramáticos poderosos de cativação. “Herói de Sangue“, novo longa com ambientalização sobre a Primeira Guerra Mundial, chega além de acrescentar o repertório cinematográfico, na tentativa de mirar festivais e premiações do cinema – o que conseguiu ao entrar na seleção “Um Certo Olhar” do Festival de Cannes em 2022.

Com Omar Sy (Lupin; Intocáveis) no protagonismo e produção, “Herói de Sangue” conta também com Alassane Diong (O Rei das Sombras) como Thierno, filho do personagem de Omar; Alassane Sy como Birama, colega de Bakary (nome do personagem de Omar Sy, seu irmão, interpreta) nas sedes dos militares franceses; e Jonas Bloquet (A Freira; Elle) no papel de Lieutenant Chambreau, capitão da frota militar da França na Guerra. A direção e o roteiro do filme fica por conta de Mathieu Vadepied (Como Gente Grande).

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Cartaz oficial. (Foto: Reprodução/ Synapse Distribution)

Na história, um pai (Omar Sy) se alista no exército para ficar ao lado de seu filho adolescente (Alassane Diong), raptado pelos franceses para lutar na guerra. Agora, eles devem lutar nas trincheiras da França durante a Primeira Guerra Mundial na tentativa de se salvarem e voltar a sua aldeia no Senegal.

Distribuído pela Synapse Distribution aqui no Brasil, o Nerds da Galáxia foi à cabine de “Herói de Sangue“. Confira nossa crítica sem spoilers abaixo.

NotaEstá é uma crítica sem spoilers, a fim de não estragar sua experiência em assistir ao filme. A crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta ou uma resposta definitiva para a sua dúvida de assistir ao filme ou não. Sempre priorize ver para estimular o trabalho dos realizadoresAs informações contidas na crítica já foram apresentadas em sinopses e trailers.

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Cena de Herói de Sangue. (Foto: Reprodução/ Synapse Distribution)

Crítica sem spoilers de Herói de Sangue

Direto ao ponto, “Herói de Sangue” inova o gênero de Guerra, trazendo ao holofote uma história escondida mascarada pelo colonialismo vindo dos franceses aos africanos. Assim como “Nada de Novo no Front” (2022) conseguiu alçar ares ao Oscar 2023 pela perspectiva alemã da Segunda Guerra e por não ter pudor em retratar os eventos baseados em fatos reais para as telonas ou encaixar algum final feliz no meio, “Herói de Sangue” bebeu ainda mais da mesma fonte de realismo, a fim de mostrar uma nova faceta obscura da guerra ainda mais cruel e desumana do que já é instaurado no nosso imaginário popular nas trincheiras.

Sem apelos dramáticos, o filme consegue trabalhar bem com o que tem em mãos narrativamente, extraindo o necessário para o desenrolar da história. O que também me impressiona é a velocidade dos acontecimentos, apresentando um ritmo muito natural e nem um pouco incômoda, seja acelerada ou arrastada.

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Cena de Herói de Sangue. (Foto: Reprodução/ Synapse Distribution)

Além do diferente direcionamento voltado ao sequestro de africanos para lutarem por um país que não os representa, “Herói de Sangue” tem como forte ponto as atuações de Omar Sy e Alassana Diong e esse laço familiar poderoso entre pai e filho, muito mais presente como catalisador do longa.

Bakari, um pastor da aldeia sem ambições e que vive apenas pela sua família, cujo objetivo é somente encontrar meios de fugir da zona de guerra com seu filho por saber que os resultados da guerra só levam à morte dos dois lados; e Thierno, um jovem-adulto ingênuo e visionário que facilmente aceita o destino e encontra no empenho no combate à guerra como um refúgio para proporcionar melhores condições de vida à família (uma vez que o governo francês prometeu cidadania francesa e ajuda financeira aos recrutas pós-guerra) protagonizam diálogos muito inteligentes e cenas carregadas de tensão dado ao conflito ideológico.

Cena de Herói de Sangue. (Foto: Reprodução/ Synapse Distribution)

Para uma maior imersão, a recorrência da linguagem fula, falada em vários países da África ocidental e no filme pelos personagens africanos predominantemente vistos na base militar francesa, é um detalhe que esbanja teor emocional (envolto pela barbárie das invasões francesas em territórios da África, consequentemente o sequestro de centenas de homens africanos) e, sobretudo, étnico, impulsionadas por cenas de oração e dogmas religiosos à parte mostradas. Como se já não bastasse a ocultação do tema, um olhar com estrangeirismos não seria aceitável com a mensagem de “Herói de Sangue“.

Em resumo, o desenvolvimento de Bakari e Thierno foram desenhados de maneira excelente e delicada, bem como o papel do tenente Lieutenant Chambreau (Jonas Bloquet) na história. Seus plots geraram uma surpresa interessante, mostrando mais uma vez que em uma guerra não há vencedores. Claramente, em uma boa produção de guerra, a fotografia e a trilha de “Herói de Sangue” são muito boas e contribuem para a narrativa. Sua previsibilidade, seu esqueleto já visto e seu potencial de ir mais além aos prejuízos dessa colonização francesa não cumprido fazem o filme não pertencer à prateleira de “1917”, “Dunkirk”, “A Vida é Bela” e outros.

“Herói de Sangue” já está disponível nos cinemas brasileiros.

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Herói de Sangue (Guerra; Obra de Época/ 1h 49m)

8

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