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URUBUS | Vale a pena assistir? – Crítica sem Spoilers

Nesta quinta-feira (1), “URUBUS“, novo filme da O2 Filmes dirigido por Claudio Borrelli e produzido por Fernando Meirelles (Dois Papas, Cidade de Deus), chega aos cinemas brasileiros. Sendo produzido há mais de 15 anos, “URUBUS” ganhou destaque no meio, sendo multicampeão em diversos festivais de cinema, como na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nas categorias ‘Melhor Filme Brasileiro’ – pela Crítica Especializada – e ‘Melhor Filme de Ficção Brasileiro’ – pelo Público -; e na British Independent Film Festival pelas categorias ‘Melhor Filme’ e ‘Melhor Atriz Coadjuvante’ (Bella Camero).

Uma sessão especial de “URUBUS” para convidados e imprensa foi realizada na última segunda (29), com a presença de toda a equipe técnica e criativa do longa. A produção se ambienta no debate cultural polêmico sobre a aceitação do pixo como forma de expressão cultural, mostrando diretamente suas cartas de denúncia à elitização do que é definido como arte para a sociedade, e, de quebra, colocando o dedo na ferida sobre assuntos já pautados, como a postura preconceituosa com a favela e suas richas internas.

URUBUS ganha trailer e cena inédita no YouTube (Foto: Reprodução/ 02 Filmes)
URUBUS logo (Foto: Reprodução/ 02 Filmes)

Com tamanha responsabilidade em torno da seriedade do tema, “URUBUS” cumpre com sua proposta? Vale a pena ver o filme quando estrear nos cinemas no dia 1 de junho? Confira abaixo nossa breve crítica sem spoilers.

NotaEstá é uma crítica sem spoilers, a fim de não estragar sua experiência em assistir ao filme. A crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta ou uma resposta definitiva para a sua dúvida de assistir ao filme ou não. Sempre priorize ver para estimular o trabalho dos realizadoresAs informações contidas na crítica já foram apresentadas em sinopses e trailers.

Impressões sobre “URUBUS”

Na quarta maior cidade do mundo (São Paulo), onde a pichação cobre mais muros e prédios do que em qualquer outro lugar do planeta, Trinchas (Gustavo Garcez) comanda um grupo de pichadores que escala os edifícios mais altos para deixar sua marca. Quando Trinchas conhece Valéria (Bella Camero), uma estudante de arte, seus mundos colidem, resultando na invasão da 28ª Bienal de São Paulo. A partir de então, a pichação ocupa seu lugar no mundo da arte e o bando de jovens invisíveis da periferia tornam-se protagonistas de um polêmico debate cultural “.

Propondo um lado de um extenso debate cultural – e recente, acima de tudo -, “URUBUS” nitidamente não se preocupa em amistosidades. Estando em um ritmo constantemente intenso, em paralelo ao modo de vida do pixadores protagonistas e à dinâmica de São Paulo, o filme se mostra uma grande aula de perspectiva, sobretudo para o público leigo – assim como eu – perante a cultura do pixo e aos pixadores. Desde os perigos e a vida hardcore do trabalho à rotina de vida dos personagens foram retratados.

URUBUS” também acerta descancarando o próprio problema da aceitação do pixo entre os pixadores, seja em uma cena de repulsa de uma mãe sobre as “más companhias” de seu filho, seja numa cena de crise existencial entre Trinchas (Gustavo Garcez) e Valéria (Bella Camero), em que a própria estudante convence Trinchas que seus “rabiscos” não são só “rabiscos”, e sim uma forma de manifestação cultural e uma forma de arte. Assim, a mensagem que fica é de um ensimanento “de rebanho”, passada de pessoa a pessoa sem contestações.

URUBUS | Filme produzido por Fernando Meirelles ganha cartaz e data de estreia. (Foto: Reprodução/ 02 Play)
Cena de URUBUS (Foto: Reprodução/ 02 Play)

Além da temática ficcional inédita, “URUBUS” permite a direção de holofotes a uma classe excluída da mídia, algo totalmente positivo tanto na esfera cinematográfica quanto social, financeira e educativa.

Como dito acima, o ritmo intenso de “URUBUS” é contagiante, graças ao poder de imersão da produção, que por sua vez foi causada totalmente pela sintonia da direção, sonoplastia, iluminação, roteiro e atuação – ou seja, praticamente de todas as camadas produtivas de uma obra audiovisual. Parece xulo e óbvio, porém nem sempre um filme harmoniza todos os seus recursos, que podemos destacar desde a correria das produções, por exemplo, focando nos pilares “roteiro” e “direção”. Sua união provoca uma sensação de que o telespectador está presente no cenário, sentindo na pele o desespero, alegria, tensão e raiva, assim como os personagens sentem.

Em especial, a trilha sonora e as atuações são pontos principais, cheia de detalhes que enriqueceram a atmosfera e tornaram-o extremamente real, se assemelhando muito a um documentário por sua construção. A pegada documentarista claramente foi pensada, acima de tudo pela participação do diretor de “URUBUS“, Claudio Borrelli, no documentário “Pixadores” (2014), material de referência para o longa da O2 Filmes, além das vivências legítimas do artista plástico Cripta Djan misturadas com elementos criados para fins de entretenimento.

Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)
Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)

Só não destaco o roteiro junto, pois parece que nem havia – calma, isso é um ponto positivo. A escolha do elenco com atores que aderem o pixo como estilo de vida, como o Gustavo Garcez (o Trinchas, líder dos pixadores) e sua trupe e Bruno Santaella (pixador que discorda dos ideias de Trinchas) foram cruciais para a veracidade do que estava sendo mostrado, com excelentes atuações e diálogos convincentes e super respeitosas regionalmente e individualmente, não ironizando a maneira de falar de um jovem periférico (seja com gracinhas ou com uma forte presença de elementos estereotipados). Dentre as atuações, o maior destaque e aplausos fica com o trabalho de Bella Camero, com sua entrega total de cair o queixo.

Claro que o dedo de Claudo Borrelli e equipe de roteiristas já engajados na causa foi essencial para o resultado, mas é notável a liberdade que os atores tiveram no decorrer das gravações de “URUBUS“, refletindo na atuação, consequentemente no roteiro, causando essa impressão de que somente o teor das conversas foi passado, ficando sob responsabilidade dos atores e atrizes a criação dos diálogos. Novamente, ressaltando: sem forçadas escancaradas e com uma suavidade impressionante, até rendendo diversas situações engraçadas sem querer (querendo).

Os únicos problemas que notei em “URUBUS” foram uma troca de direcionamento e um reforço negativo envolvendo os pixadores com a criminalidade.

Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)
Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)

A pauta da desconstrução social da má impressão do pixo foi bem trabalhado no começo e meio do filme, e depois sendo deixada em segundo plano para a problemática das richas de grupos das favelas ganhar protagonismo. Para mim, foi um erro, tendo em vista que as sinopses de “URUBUS” sempre destacaram o núcleo do preconceito social diante da classe pixadora e pelo caráter importante e grande que ela possui, podendo ser desmembrada para outras vertentes, pontos de vistas e outras formas de deixar mais rico o debate.

Também não gostei da normalidade da prática do roubo entre os pixadores, embora seja importante essa colocação para o enredo do filme, principalmente em torno da relação dos personagens de Gustavo Garcez e Bella Camero – que, por sinal, possuem uma excelente química e entrosamento, tornando bem interessante o conflito de realidades entre eles e a relação amorosa no meio dessa história quase “Romeu e Julieta” – e pela situação financeira baixa que os personagens pixadores enfrentam. Porém, um espírito de “normalidade” diante de tais ações serviram para pesar a balança mais negativamente para os pixadores, os protagonistas de “URUBUS” e as vítimas dos olhares maldosos da sociedade e da polícia.

Essa mudança narrativa me deixou com uma sensação da produção ficar “arrastada“.

Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)
Imagens de URUBUS. (Foto: Reprodução/ O2 Play)

Conclusão

Recomendo firmementeURUBUS“, principalmente para os consumidores da cultura do pixo, os leigos sobre o assunto e para os cinéfilos e cinéfilas que gostam de assistir obras belíssimas e super profissionais. Com toques de drama e comédia, o filme é uma bela homenagem e um porta-voz recheado de carinho a todos os pixadores, já fazendo história pelas premiações que faturou, pelos artistas que mostraram e pela voz que levantou. Sendo um filme completamente imersivo e intenso, vai te tirar sinceras gargalhadas, choros e aflições com o irretocável trabalho da sonoplastia e das atuações.

Não espere que o filme traga um debate imparcial sobre o pixo e a arte e nem que o tal assunto pendure durante todo os 113 minutos de duração, mas, sem dúvidas, “URUBUS” é essencial para a introdução da aceitação do pixo como forma de expressão cultural.

URUBUS” estreia em 1º de junho, em cinemas selecionados, nas cidades de Aracajú, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

URUBUS

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Na quarta maior cidade do mundo (São Paulo), onde a pichação cobre mais muros e prédios do que em qualquer outro lugar do planeta, Trinchas (Gustavo Garcez) comanda um grupo de pichadores que escala os edifícios mais altos para deixar sua marca. Quando Trinchas conhece Valéria (Bella Camero), uma estudante de arte, seus mundos colidem, resultando na invasão da 28ª Bienal de São Paulo. A partir de então, a pichação ocupa seu lugar no mundo da arte e o bando de jovens invisíveis da periferia tornam-se protagonistas de um polêmico debate cultural

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