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Fiéis

O ótimo suspense holandês “Fieis” é uma das mais recentes adições ao catálogo da Netflix, e sua história pode ser sintetizada pela célebre frase do dramaturgo irlandês George Barnard Shaw, que aparece logo no início da trama: “O castigo do mentiroso não é o fato de ninguém acreditar nele, mas sim dele não acreditar em ninguém.”

Na trama acompanhamos a história das amigas Bodil Backer (Bracha Van Doesburgh) e Isabel Luijten (Elise Schaap), duas mulheres independentes e muito bem-sucedidas tanto profissionalmente quanto em suas vidas conjugais, mas que eventualmente deixam seus maridos em casa para juntas passarem alguns finais de semana participando de conferências e eventos em outras cidades.

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Logo de cara fica claro que os diversos álibis criados pela dupla de amigas têm o objetivo de encobrir as frequentes escapadinhas do casamento, já que uma vez longe de casa e de seus respectivos cônjuges ela terão seus dias completamente livres para flertar e viver tórridas aventuras amorosas com ilustres desconhecidos, até que retornem para seus lares e vivam suas vidas conservando a imagem de senhoras ilibadas, tão prezada pela nossa sociedade.

O elaborado plano da dupla caminha muito bem até que Bodil é envolvida em um assassinato durante uma de suas viagens e com isso acaba tendo que revelar as exatas circunstâncias de sua viagem para auxiliar a polícia na solução do crime.

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Com a chegada dos maridos Milan (Nasradin Dchar) e Luuk (Gijs Naber) à cidade, Bodil percebe que a fragilidade dos álibis criados para sustentar suas mentiras a deixa totalmente exposta naquela situação, além do fato de compreender que ela, acostumada a manipular todos a sua volta, não é a única mentirosa da história.

A maneira como o diretor André Van Duren habilmente conduz o suspense permite ao expectador partilhar com a protagonista as mesmas dúvidas a respeito da lealdade daqueles que a cercam. A todo momento somos levados a questionar quem realmente está ou não falando a verdade nessa trama onde ninguém, absolutamente ninguém, é aquilo que aparenta ser.

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Sem poder contar tudo o que sabe à polícia para proteger o álibi criado com a amiga, sem poder abrir o jogo ao seu marido para não magoá-lo, e ainda envolvida numa trama de assassinato na qual ela poderia ser o próximo alvo, Bodil é envolvida em uma rede de mentiras tão grande que a leva a perder a confiança em todos aqueles que a cercam. Em dado momento, chega a duvidar de si mesma, quando tenta levar à polícia provas que comprovariam que sua vida estaria sob ameaça, mas vê sua tentativa de achar apoio desaparecer, como se ela estivesse perdendo a sanidade.

Os plot twists na última parte do filme conseguem enganar a audiência que a todo momento é levada a crer que o filme chegou ao final, mas logo em seguida é surpreendido por uma ponta solta que desencadeia novos acontecimentos que levam a outra reviravolta. Esse é um suspense dos bons, daqueles que conseguem prender a atenção até o final, que não permitem uma piscada mais longa, sob pena de fazer o expectador deixar escapar algum ponto importante da trama.

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A conclusão do longa, embora seja muito didática em alguns pontos, é coerente, muito bem trabalhada, e consegue mostrar muito bem essa dualidade na qual todos temos algo a esconder, embora, socialmente, façamos questão de demonstrar que não. O título do filme, na verdade, é um paradoxo numa história em que ninguém demonstra fidelidade a ninguém, algumas vezes nem a sim mesmo.

Além disso fica claro que todo mentiroso, em algum momento, terá que lidar com as consequências de suas escolhas e irremediavelmente será obrigado a aprender com os seus erros e a rever sua maneira de viver. Ou será que não?

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