CríticasSéries e Filmes

Sra Harris Vai a Paris | Um dos melhores filmes que a Sessão da Tarde passaria em toda sua história

Dia 24 de novembro, esta quinta-feira, “Sra Harris Vai a Paris” estreia nos cinemas brasileiros, uma vez que o filme já foi exibido no dia 22 de outubro no Festival do Rio. Sendo a segunda adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome escrito por Paul Gallico em 1958, o filme traz uma versão mais encantada e fantasiosa que em relação ao primeiro filme, intitulado “Um Sonho em Paris”, de 1992. Com 1 hora e 56 minutos de duração, “Sra Harris Vai a Paris” é uma comédia dramática dirigida, roteirizada e produzida por Anthony Fabian, que não acumula uma passagem vasta cinematograficamente, tendo dirigido somente “Skin” (2008) e “Mais de Mil Palavras” (2013).

“Sra Harris Vai a Paris” é distribuído pela Universal Pictures e produzido pela produtora EOne. Carroll Cartwright (Pelos Olhos de Maise) e a indicada ao BAFTA e ao Festival de Veneza Olivia Hetreed (O Morro dos Ventos Uivantes) trabalharam junto com o diretor Anthony Fabian no roteiro. A atriz principal Lesley Manville está ao lado de Phillippe Carcassonne na produção executiva.

3037859
Pôster de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

Em “Sra Harris Vai a Paris”, na década de 1950, uma empregada doméstica viúva (Lesley Manville) se apaixona por um vestido de alta costura da Dior. Ela decide que precisa desesperamente ter um vestido igual e passa a fazer de tudo para economizar o dinheiro para comprá-lo. Depois de muito sufuco, ela consegue e embarca em uma aventura para Paris. Além de seu próprio visual, a Sra. Harrris também transformará completamente o futuro da marca Dior.

O elenco principal consta com a indicada ao Oscar Lesley Manville (Another Year) como a personagem-título Sra Harris ou Ada Harris; Ellen Thomas (Cinderela: Depois do Para Sempre) como Vi Butterfield, a melhor amiga de Sra Harris; o ganhador do Emmy Internacional e do Globo de Ouro Jason Isaacs (Malfoy em Harry Potter) sendo Archie, companhia e “amigo” de Ada; Alba Baptista (Warrior Run) – recentemente muito falada por veículos de celebridades e fofocas sobre seu namoro com o ator do Capitão América Chris Evans – é a modelo da Dior Natasha.

Lucas Bravo (Emily in Paris) como André Fauvel, o contador da marca de moda francesa; Isabelle Huppert (Elle) interpretando Claudine Colbert, gerente da Dior; Rose Williams (Sanditon) no papel de Pamela Penrose; e Lambert Wilson (Five Days One Summer) como Marquês de Chassagne; também estão no plantel de artistas cênicos em “Sra Harris Vai a Paris”.

3805917
Pôster de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

A Nerds da Galáxia teve a oportunidade de ver o filme na última terça-feira, 22, a convite da rede de cinema Cinemark. As sessões de exibição do longa já estão disponíveis para a compra, caso ao decorrer da leitura você fique interessado em “Sra Harris Vai a Paris”. Já devidamente apresentados, confira nossa crítica.

NotaEstá é uma crítica sem spoilers, a fim de não estragar sua experiência ao assistir ao filme. A crítica consiste em uma opinião do escritor e não deve ser considerada absoluta ou uma resposta definitiva para a dúvida de assistir ao filme ou não. Sempre priorize em ver para estimular o trabalho dos realizadores.

Crítica – Sra Harris Vai a Paris

Você possui sonhos? Pode parecer uma pergunta retórica e até ‘boba’, mas seus sonhos estão somente orbitando seu inconsciente ou são planos que estão sendo cumpridos ao decorrer do tempo, como um trabalho de formiga? Você seria capaz e corajoso de alcançar a realização de seu sonho, mesmo que a abdicação fale mais alto?

Ada Harris, a protagonista do “Sra Harris Vai a Paris”, não só diria “sim” à primeira e última pegunta citadas acima, mas também provaria, a partir de ações corriqueiras do cotidiano, que seu esforço é legítimo de aplausos e até de inveja para olhares mais maldosos.

Sonhos não devem andar paralelamente ou estabelecer uma relação proporcional condizente com sua classe social ou faixa etária, visto que “a vida é uma caixinha de bombom: você não sabe o que vai encontrar” – como já dizia Forrest Gump em uma obra-prima do cinema dirigida por Robert Zemeckis. “Sra Harris Vai a Paris” é um exemplo clássico da importância da manutenção vívida de seus sonhos, acima de tudo, o seu cumprimento, nunca sendo tarde demais fantasiar uma vida melhor ou metas a serem atingidas.

3379996
Cena de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

Além da tratativa da essencialidade do ser humano consistir em nossos sonhos, “Sra Harris Vai a Paris” também é uma carta aberta à generosidade e empatia – que também deveria ser o básico de cada um -, personificada com bastante teor em Ada Harris, mas vista em outras personagens, também. Muito por conta da influência de Harris em suas vidas ao longo da trama, que, com a senhora governanta, ou simplesmente foi o suficiente para aguçar a bondade já presente internamente nelas, ou a figura presente de Sra Harris serviu como uma introdução a esse mundo.

Percebe-se também que, no desenvolvimento fílmico, a sorte que Ada parece herdar do céu deve-se ao seu bom exemplo de caráter e índole, sempre disposta a cumprir seu trabalho sem reclamações e arrependimentos, com um belo sorriso no rosto – super cativante e harmônico com a química que Lesley Manville exala no papel – e um otimismo inexplicável. Uma grande ressalva são os momentos de contraparte de toda esta sorte, que mostra como está tudo bem não ter dias bons e a importância de se manter otimista por dias melhores e acreditar em sua vocação e em sua determinação. Correr atrás do que almeja se torna o principal remédio.

Os elementos que conversam com a história e com a personagem entre si retornam, na representação da greve em Paris como uma metáfora mais abstrata de Ada Harris nesse entorno, uma vez que uma diarista de Londres está no meio de socialites, marqueses e membros da realeza em busca de um vestido que é fora de sua realidade normal, tanto financeira como social.

3422116
Cena de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

O excesso de resíduo nas ruas da cidade, até então propagada mundialmente como a “cidade romântica”, nos permite traçar uma similaridade com o background de Natasha (Alba Baptista), uma modelo que claramente não quer seguir esta opção e deseja estudar filosofia – “lixo” e “cidade romântica”, “trabalho estético” e “trabalho reflexivo” não se batem, figurinhas opostas que são coladas em páginas erradas. E até quem sabe um clima que a Sra Harris precisava visualizar para enxergar que seu lugar também era ali, que é somente na cabeça que existe uma destinção de lugar “rico” e “pobre”…

Com todos estes simbolismos, “Sra Harris Vai a Paris” exemplifica ensinamentos ‘clichês’, crucuais para a sociedade que são entendidos mas não compreendidos, como “Faça bem ao próximo e colha os frutos da gratidão e da felicidade”; “Diga-me com quem andas e te direi quem tu és”; e “Você faz seu próprio futuro”. O que só enriquece o roteiro, pela abordagem destes temas e da falta de preocupação em verbalizá-lo em algumas linhas de diálogo ou algo do tipo. As ações no filme são os mestres da explicação, deixando com que os telespectadores sintam as mensagens passadas por eles mesmos e praticam o exercício da reflexão.

Visto a importância social que “Sra Harris Vai a Paris” traz de relevante, sua parte técnica merece ser destacada, igualmente.

Com um orçamento médio de US$ 5 milhões, extremamente pouco quando se trata de produções hollywoodianas, “Sra Harris Vai a Paris” consegue manter um excelente cenário e figurino, graças ao belo trabalho do diretor de arte Andrew Munro e da diretora de figurino Jenny Beavan, que ambientalizaram uma Paris conflituosa entre o mundo chique – da moda, desfiles e comportamento Dior de ser – e uma esfera catastrófica – tanto pela crise que a famosa marca passara quanto pelas greves dos trabalhadores que tomam às ruas de Paris com lixos e bagunças.

3365955
Cena de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

O roteiro de “Sra Harris Vai a Paris”, por mais que não tenha o intuito de estabelecer algo diferente dentro da indústria, sua simplicidade é bem coerente e ao mesmo tempo propõe uma série de camadas que tornam-a interessante e instigante. “Sra Harris Vai a Paris” prova que um roteiro destrinchado, sem muitas pirotecnias reflexivas ou grandiosas cenas, é o que torna um filme agradável de ser visto. Afinal, as comédias dramáticas e românticas são feitas, em sua maioria, para descontração do público e uma história leve e divertida, o que “Sra Harris Vai a Paris” cumpre com louvor. O tempo de cada evento retratado respeita o grau de desenvolvimento no filme, o que amplifica mais ainda uma homogeneidade narrativo.

Se o roteiro é bem desenhado e sabe definir o que quer abordar e contar, os atores possuem um prato cheio. Posto isso, os atores no geral concedem atuações convincentes pros seus respectivos personagens, claro que com exceção da protagonista Lesley Manville, que exerce um carisma que dá mais vida para Sra Harris. Todos exalam química com a estrela principal, que mostra que sua experiência nesta vida rendeu-lhe não somente ensinamentos bons, só que também um coração enorme.

Para o tipo de história que “Sra Harris Vai a Paris” propõe, a medida foi mais que justa e plausível, sem ser arrastado e indo direto ao ponto, ao mesmo tempo que deixa suas estratégicas falas ou takes fazerem todo o jogo duro. A motivação de Ada Harris foi muito instantânea ao vestido, todavia mesmo que alguns falem que houve uma pressa, é importante de ser dito que conexões ligadas à emoção não posuem explicação racional, só acontecem, algo que foi notável pela atuação de Lesley Manville. A mescla de pontos altos e baixos foi na dosagem certa, com a sensação de alguma coisa pode estar prestes a acontecer não sendo óbvia, principalmente nos acontecimentos finais.

Por último, a relação entre o desmoronamento financeiro da marca poderosa de grife Dior com a chegada de uma cliente totalmente inesperada foi muito bem traçada em “Sra Harris Vai a Paris”. Não somente por essa presença ter significado positivamente as pessoas que trabalham por lá, como a ideia de que todos querem se sentir pertencidos, mais uma vez representando filosoficamente os mesmos ideais de condições de trabalho mais justas por parte dos faxineiros de Paris.

5344319
Cena de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

Pontos negativos

O arco de Ada Harris e de Natasha foram mais enfatizados em “Sra Harris Vai a Paris”, visto esta semelhança em pertencerem a mundos opostos da moda parisiense; contudo a história dos demais avatares do filme não ficou de fora, sendo necessário a imersão do telespectador. Pode ser uma boa escapatória a fim de não tornar uma cena como um monólogo, porém perigoso para os telespectadores que não possuem facilidade mais rápida de associação.

Enquanto à comédia presente em “Sra Harris Vai a Paris”, seus momentos cômicos atuam no momento certo, mesmo que alguns não sejam muito fortes para render uma boa risada. A centralização total da Sra Harris é digna pelo calibre de Lesley, mas a falta de nomes mais de peso para compartilhar o palanque acabam desgastando Lesley Manville e poderia oferecer mais movimentação. Há uma falta de contribuição dos demais personagens voltados à Harris, tirando a ajuda assistencialista prestado, que fizesse com que Sra Harris tornasse uma mulher, nem que seja um pouco, mais diferente que sua primeira versão no início.

1433091
Cena de Sra Harris Vai a Paris. (Reprodução/ Universal Pictures)

E de personagens específicas, da mesma forma, como a “antagonista” monarca socialite francesa, que estabelece esta richa com a protagonista somente no primeiro ato quando a Sra Harris conhece o desfile Dior, faltando uma maior participação maléfica ou simplesmente uma aparição maior na história.

Conclusão

“Sra Harris Vai a Paris” lembra muito um conto de fadas de uma princesa da terceira idade, e pelo filme manter-se menos fantasioso e mais realístico, a fantasia foi somente algo sentida, ponto bastante notável para aqueles que desprovam todo o irrealismo dos famosos contos que vimos na infância.

Pela carismática protagonista; um elenco que cumpre sua parte; e, principalmente, um minuncioso roteiro que mesmo que simples em termos de ousadia e originalidade, executa com maestria sua função narrativa e possibilita uma maior afloração ao tema; “Sra Harris Vai a Paris” pode ser visto por pessoas que somente querem matar seu tempo livre, bem como cinéfilos já inseridos no meio que gostam de um romance, drama, comédia e/ou obras que possam impactar socialmente em suas vidas.

O filme só corrobora o quanto que dinheiro não define boas peças cinematográficas, e sim seu roteiro e sua atenção à proposta definida. Igualmente o fato que estereótipos não definem nossa essência, podendo ser arrancada socialmente através das mesmices que ouvimos sempre: faça o que quiser que fazer e corra atrás dos seus sonhos e objetivos. Talvez tenhamos que ouvir menos e escutar mais. Nesse caso, ver mais.

7

O que você achou desse post?

Gostei
0
Adorei
0
Mais ou menos
0

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

0 %