A alguns meses atrás, vi muitos conhecidos da internet comentarem sobre Tormented Souls, um jogo que até aquele momento, confesso, não havia ouvido falar. Muitos dele citavam que o jogo tinha muita qualidade, mas naquele momento eu não teria condições de jogar, então não fui atrás de saber do que se tratava o jogo. Devo dizer que foi uma ótima escolha.
Isso porque, agora ao jogar, tive toda a experiência sem nenhuma outra influência externa e tentei aproveitar ao máximo tudo aquilo que o jogo me disponibilizou. Posso dizer com propriedade que Tormented Souls é um jogo de terror raiz, daqueles que não vemos a muito tempo.
Tormented Souls é, como já dito, um jogo independente, desenvolvido pela Dual Effect, Abstract Digital e distribuído pela PQube, lançado originalmente no dia 26 de outubro de 2021. É um jogo que, hoje, está disponível para quase todas as plataformas e que recomendo altamente a jogar e vou explicar o porquê.
Tormented Souls é um jogo instigante…
Tanto em sua narrativa quanto em sua jogabilidade, e esse fator vai você começar a jogar e a não querer parar tão cedo, o que de certa forma é bom, não é? Na minha opinião todos os jogos deveriam ser assim, mas voltando a falar sobre o Tormented Souls, vamos entrar primeiramente na questão de sua narrativa.
E desde já informo que a narrativa do jogo possui muitos temas clichês em sua estrutura, a ponto de ficar meio na cara um ponto de virada narrativo desde o início do jogo, mas apesar disso, o jogo me prendeu de uma forma que eu não esperava. Além disso, talvez seja essa a proposta do jogo em si, pois eu vejo esse jogo como uma grande homenagem ao gênero survival horror.
A história parte do princípio de que a protagonista, Carolina Walker, recebe uma carta estranha que continha a foto de duas meninas, gêmeas, e uma mensagem que causa nela uma dor de cabeça. Ela então parte para uma misteriosa mansão que foi transformada em um hospital, para investigar o desaparecimento dessas duas irmãs.
Porém, ao chegar no local, visivelmente ansiosa pela aparência aterrorizante do local, ela é atacada na cabeça, desmaia, e acorda em uma banheira, totalmente nua, respirando com o auxílio de uma máquina e sem um dos seus olhos. Ela acorda sem entender o que estava ocorrendo ali e parte em sua jornada para entender os mistérios que a cercam.
Temos alguns diálogos no jogo que explicam melhor a situação atual, mas a maior parte da história é contada por meio de arquivos de textos que são introduzidos na forma de páginas de diário. Essas páginas, além de darem um panorama geral do passado da mansão, mostra também, os vários pontos de vista de alguns personagens do passado que são importante para a história.
Tormented Souls é um jogo engenhoso, e isso me deixava impressionado, principalmente na resolução dos puzzles, que são muitos. Ao iniciar o jogo, já damos de cara com um, que se não resolvermos, não podemos avançar no jogo. O que achei legal é que os puzzles não estão inseridos ali por estarem, eles fazem sentido e uma hora ou outra vão ser útil para a progressão do jogo.
Por exemplo, esse puzzle que citei, ao resolvê-lo, recebemos um item, como acontece com recorrência no jogo. Esse item ficou no meu inventário por todo o jogo e eu não entendia o porquê, até que na reta final do jogo, muitas horas depois, esse item foi essencial para liberar um novo caminho. Isso sendo um item que adquirimos literalmente no início do jogo, e confesso que achei genial, e ocorre diversas vezes.
É um leva e traz de itens…
Do início ao fim do jogo, assim como os saudosos Resident Evil e Alone in the Dark clássicos, que são citados como inspiração pelos próprios desenvolvedores, mas senti também uma inspiração em Silent Hill em determinados momentos em que existem algumas “realidades” diferentes, mas não vou me aprofundar nisso para evitar spoilers.
Mas é exatamente esse leva e traz de itens que torna a experiência de jogar muito dinâmica e recompensadora. O início foi difícil para pegar no tranco, pois os jogos de hoje em dia estão cada vez mais cheios de indicadores do que fazer, e no caso do Tormented Souls, não temos nenhuma dica de objetivos ou coisas do tipo. Em alguns momentos, encontramos personagens que não dão informações sobre o que fazer, mas de forma bem vaga quase sempre.
Em diversos momentos tive a sensação de estar totalmente perdido, sem saber aonde ir ou o que fazer, e é aí que vem a sensação de recompensa. Sempre que descobria alguma coisa nova, seja explorando o mapa ou examinando algum item, vinha aquela sensação de que as peças estavam se encaixando e que poderia usar um item para resolver um puzzle, que liberava outro item para resolver outro puzzle e assim vai…
O jogo é baseado em puzzles do início ao fim, inclusive o mapa do jogo, que se assemelha bastante aos mapas de Resident Evil. Temos diversas zonas interconectadas entre si, que vamos desbloqueando conforme avançamos no jogo. Algumas delas precisam de itens para serem acessadas, como chaves e cartões, e outras que além desses itens, ainda precisa ser resolvido um outro puzzle, mas esses bem mais simples que os anteriores.
Uma dica que tenho para dar é que sempre que conseguir algum item, ou antes de utilizar na resolução de algum quebra-cabeça, é importante examinar bem o item pois muitos deles possuem algumas interações. As vezes não conseguimos utilizar um item que temos certeza de que é o correto porque esquecemos de interagir com ele e habilitar ele para ser usado, o que acaba aumentando o tempo que passamos jogando.
Temos de volta a boa e velha perspectiva fixa…
Assim como nos jogos clássicos, onde vemos o personagem em terceira pessoa, mas não podemos girar a câmera. Porém, a câmera não é totalmente fixa, em alguns momentos ela é posicionada com foco no personagem e se move conforme ele avança na seção do mapa. As posições que a câmera se posiciona funciona bem algumas vezes, mas em outras nem tanto.
Em alguns momentos ela se posiciona de forma que dificulta muito a localização de alguns inimigos ou mesmo a identificação de alguns objetos nos fariam avançar na jornada. Mas acho que, em alguns casos, pode ser assim por escolha dos próprios desenvolvedores, com o objetivo de dificultar um pouco o jogo, pois temos outros fatores assim, mas falamos sobre isso mais à frente.
Vamos partir para os aspectos mais técnicos do jogo e começamos pelo seu visual, que é bem simples e nem dá para cobrar muito pois é um jogo independente e não parece ter tido um incentivo monetário muito grande no seu desenvolvimento. E ainda assim, visualmente é bastante satisfatório, pois apesar de simples, não incomoda em nenhum momento.
As texturas dos cenários são até bem detalhadas, não encontrei nenhuma textura que tivesse aquela sensação de lavada ou que não tinha uma resolução minimamente boa. Também não encontrei nenhum bug gráfico em nenhum momento, na real, não presenciei nenhum bug no jogo, o que é muito bom.
Os modelos dos personagens do jogo, seja da protagonista, dos NPCs ou dos inimigos, são todos bem simples, simples mesmo, mas novamente, nada que incomodasse. Os inimigos são bem genéricos, e apesar de sua aparência ter ligação com a história do jogo, acho que seus visuais destoam um pouco do visual dos cenários. Alguns inimigos inclusive, destoam até mesmo dos tipos mais simples de inimigos, mas novamente (de novo), nada que incomodasse.
Mas é perceptível que os desenvolvedores tiveram um carinho maior com a protagonista do jogo, como já é de se esperar. O modelo da Caroline tem bem mais detalhes e animações, nada muito avançado tecnologicamente falando, mas que faz uma diferença boa visualmente. Ela ainda tem algumas expressões faciais simples, mas que no geral são bem condizentes com o jogo.
Um ponto que posso dizer que talvez não seja nada demais é a trilha sonora pois ela é meio genérica, acredito que pelo fato de lembrar muito as trilhas dos jogos de horror clássicos. E isso é ruim? Não, não é, mas também não é nada muito impressionante e nem é algo que esperaria do jogo. Como som ambiente, cumpre muito bem seu papel, não atrapalhando na experiência e dando a imersão necessária.
Não é um jogo fácil…
Principalmente se levarmos em consideração os jogos de hoje em dia, que estão cada vez mais acessíveis para o público em geral. Mas também não diria que é um jogo difícil, diria que é um jogo que demanda uma certa concentração e foco, e digo isso tanto para os combates como para a resolução dos puzzles presentes no jogo.
Como já disse anteriormente, as vezes tive a sensação de estar perdido no jogo pelo fato de ele não indicar nada, e na minha opinião é um dos fatores dificultadores do jogo. Alguns puzzles podem ser meio complexos e requerem um pouco de raciocínio que muitos jogos não exigem do jogador. Mas com o tempo, vai ficando mais fácil, não o jogo, mas pegamos a prática.
Além dos puzzles, temos, é claro, os inimigos que enfrentamos no decorrer da jornada. De cabeça, lembro de pelo menos sete tipos de inimigos, cada um deles com suas particularidades, seja de tamanho, velocidade, vida e dano que causam. Os mais fracos, obviamente, causam um dano menor, porém, não é necessário muito dano para que a personagem morra.
Assim como os Resident Evils, ao acessar o inventário, temos também a indicação da barra de vida, que possui três níveis, um indicando estar bem, com fonte na cor verde, um indicando cuidado, na cor amarela e um indicando perigo na cor vermelha, sendo esse o último estágio antes da morte da personagem. Mas existem dois itens de cura, um mais fraco, que cura um nível e outro mais forte, que cura totalmente a personagem.
Mas não estamos indefesos no jogo, temos três tipos de armas “de fogo”, uma com um alcance maior, mas com dano menor, e outras duas com alcance menor, mas que causam maior dano. No jogo ainda tem uma arma branca, que causa muito pouco dano e precisa estar bem perto, o que é perigoso, a menos que o inimigo esteja caído, nesses casos, é ótima para economizar munição.
Como de costume em jogos do tipo, tanto a munição quanto os itens de cura se apresentam de forma bem escassa, então o gerenciamento deles é essencial. Dependendo da maneira que for jogar, conforme avança. Com um bom gerenciamento, os itens não ficam mais tão escassos e a dificuldade diminui bastante, porém, tem um item que é muito necessário ficar de olho e é ele o responsável por um dos maiores elementos dificultadores do jogo.
Para quem jogava os Resident Evil clássicos, sabem que o jogo só era salvo quando encontrávamos uma sala segura e salvávamos o jogo. Só que para salvar o jogo, era necessário ter uns itens, que sem eles não era possível salvar, mesmo estando na sala segura, e o mesmo ocorre em Tormented Souls.
Geralmente, ao encontrar uma sala segura, encontraremos nela uma fita, que nos possibilita salvar o jogo, mas essas salas estão bem espaçadas. Encontramos muitos inimigos nos percursos até encontrar essas salas, e se morrermos em algum momento, não importando quanto tempo esteja jogando, voltaremos até o último ponto de salvamento. Por isso é muito importante tomar cuidado redobrado, mas isso também é algo que com o tempo, acabamos pegando a manha do jogo, e novamente, com a devida exploração, os itens de save chegam a ficar abundantes.
O veredito…
Do jogo na minha opinião é que ele é um jogo essencial para aqueles que são fãs do gênero, ainda mais os saudosistas que, assim como eu, sentem falta de bons jogos do gênero. Não é um daqueles jogos cheios de jumpscare ou que tentam ser assustadores, mas é um jogo que tem a essência de um survival horror.
Um ponto importante a tocar é que, apesar de ser um jogo independente e que aparentemente não teve um orçamento dos maiores, ainda assim, ele possui legenda para uma quantidade impressionante de idiomas, o que inclui o português do Brasil. Além disso, independente da plataforma que você esteja, vai ser possível jogá-lo, com exceção do mobile. Além disso, é um jogo leve, que não requer tanto do PC, o que torna o jogo muito acessível em todos os sentidos.
Tormented Souls é uma daquelas gratas surpresas que o mundo dos games nos propõe, um jogo que você consegue perceber o amor dos desenvolvedores que o fizeram. E um daqueles jogos que faz a nostalgia bater forte. É um jogo dinâmico, desafiador sem ser punitivo, recompensador e que possui um grande fator de replay. Se não ficou claro ainda, recomendo fortemente jogar!
- Desenvolvedora: Dual Effect, Abstract Digital
- Plataformas: Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series X, PlayStation 5, Microsoft Windows
- Plataforma de Teste: PlayStation 5
- Data de Lançamento Inicial: 26 de agosto de 2021
*Key recebida gratuitamente para teste.
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