Confesso que eu não estava esperando muito de Kirby and the Forgotten Land. Mesmo com os trailers, informações antecipadas e uma certa convicção comunitária de que o jogo teria uma proposta bem diferente dos últimos jogos, eu precisava pagar para ver que não seria mais um título “berçário”, como Star Allies.
Porém, muito perto de bater três vezes no ringue e entregar todos os pontos para a Nintendo, resolvi dar uma chance para o novo jogo. Tamanha foi a minha surpresa quando dei de cara com um universo totalmente repaginado, com desafios adaptáveis para uma gama enorme de dificuldades e a essência de Kirby na sua mais pura forma. Foi um balde de água fria no meu ceticismo.
ENREDO:
Conforme vimos nos trailers apresentados pela Nintendo no decorrer dos últimos meses, uma força misteriosa é responsável por invocar um vórtex interdimensional por onde Kirby é sugado e levado para um lugar descrito no jogo como “A Terra Esquecida”. Esse vórtex, que durante a jogatina descobrimos a origem bem como a existência de diversos outros semelhantes, também foi responsável por trazer vários inimigos da terra natal de Kirby, o planeta Popstar, bem como outros inteiramente novos e repaginados para o novo título (sendo alguns velhos conhecidos).
Entretanto, uma das grandes surpresas é que o tal vórtex possui uma capacidade de alteração da forma e das características dos personagens que entram em contato com ele – o que inclui Kirby – que agora possui a mais nova mecânica chamada “Mouthful Mode” (apelidado carinhosamente de “Modo Bocão”).
Após uma introdução de tirar o fôlego, relembrando cenas de um filme aconchegante da sessão da tarde em que os protagonistas passeiam de carro na estrada ao som de um “pop rock”, nos deparamos com uma área de escombros, onde enfrentamos pela primeira vez o “Beast Pack”, que como o próprio nome sugere, é um “pacote” de monstrinhos, em sua maioria Awoofies (lobinhos?), com desejos obsessivos de destruição e sequestro de Waddle Dees, as criaturinhas vermelhas, dóceis e extremamente fofas que marcam presença mais uma vez na franquia. Vencendo o confronto, Kirby salva a sua futura companhia, Elflin, um alien carimbado na fofura e disposto a fazer de tudo para salvar os indefesos Waddle Dees, ao longo de todos os 7 mundos da Terra Esquecida.
HABILIDADES E MECÂNICAS
A assinatura de The Forgotten land sem sombra de dúvidas é a nova habilidade chamada Mouthful Mode (Modo Bocão), que permite ao Kirby sugar e moldar seu corpo em diversos objetos, apresentando novas maneiras divertidíssimas de se progredir durante a aventura, como se transformar em um carro (o que gerou vários memes, como o Relâmpago Kirbyinho) ou uma máquina de refrigerantes que sai cuspindo latinha para todo lado.
Além da novidade do Mouthful Mode, todas as habilidades nativas da bolinha rosa continuam as mesmas, com uma ou outra coisinha adaptada para o ambiente em três dimensões, algo que havíamos mais ou menos presenciado somente em Kirby 64 e nos títulos do Nintendo 3DS.
Algumas das habilidades que fazem parte do pacote são: sugar os inimigos e replicar os seus poderes (o que agora inclui objetos), causar dano liberando o fôlego enquanto no ar e o clássico chute rasteiro.
O catálogo de habilidades de Kirby pode ser dividido em:
MOUTHFUL MODE (GALERIA):
HABILIDADES COPIÁVEIS (GALERIA):
SISTEMA DE COMBATE E MOVIMENTAÇÃO:
O sistema de combate é simples e intuitivo. Kirby agora pode se defender com o botão L ou R e performar uma esquiva combinando a defesa com a movimentação do analógico esquerdo. Caso a esquiva seja feita no momento correto antes de acertar o golpe inimigo, o tempo desacelera permitindo ao Kirby se posicionar melhor ou contra-atacar com suas habilidades, uma inspiração bem forte de jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Bayonetta.
Em contrapartida ao combate, o estilo plataforma com a dinâmica em 3 dimensões me remeteu muito à uma substituição bem escancarada dos elementos de jogo de Mario Odyssey. Fora os confrontos extremamente elaborados e animados contra os chefes de The Forgotten Land, o que definitivamente são as melhores partes do jogo, existe uma similaridade muito grande entre as plataformas, como as fases na cidade, no deserto, as centenas de colecionáveis escondidos, um companheiro que te segue, e por aí vai…
Todavia, é necessário que uma análise desse fator seja feita colocando na balança os títulos anteriores de Kirby. Apesar das três dimensões serem um fator comum e extremamente trabalhado na ambientação da Terra Esquecida, ver Kirby sendo inserido de uma forma tão coesa e sólida nesse sistema deve ser visto como um pontapé gigantesco para a franquia, mesmo com a sensação de termos vivenciado diversas vezes o mesmo estilo em outros títulos da Nintendo.
Resumidamente, Kirby and the Forgotten Land é criativo e bem-sucedido, mas uma aposta segura. É fácil imaginar um pavilhão de opções ao questionar sobre o quê Kirby pode ser melhor no futuro.
A TERRA ESQUECIDA
Uma das coisas mais impressionantes é como cada início de fase é um evento, no qual dá vontade de parar por vários segundos para apreciar tudo o que está acontecendo. O design das fases do jogo é tão singular que apesar de estarem no mesmo bioma de cada um dos 7 mundos diferentes, suas peculiaridades e elementos as tornam únicas.
O objetivo do jogo, praticamente, é salvar centenas de Waddle Dees que foram raptados pelo Beast Pack. Para os complecionistas, são 300 criaturinhas espalhadas pela Terra Esquecida. Quanto mais você conseguir salvar, mais a cidade de Waddle Dee Town é reconstruída, liberando diversas estruturas interativas, sendo elas:
- Waddle Dee’s Weapon Shop: uma lojinha com um Waddle Dee engenheiro que melhora suas habilidades copiáveis utilizando moedas, pedras raras e projetos de melhorias. A possibilidade de melhorar suas habilidades é algo novo em Kirby, e a interação com as fases bônus, que não são de todo fáceis, é necessária para conseguir pedras raras que possibilitam as melhorias, trazendo uma sensação de progresso e conquista muito forte.
- Waddle Dee’s Item Shop: uma lojinha de itens que podem melhorar seus status temporariamente.
- Colosseum: estrutura com batalhas épicas que fornece um modo somente de lutas cronometradas contra chefes (boss rush), com grandes recompensas.
- Waddle Dee Cafe: uma espécie de lanchonete em que você pode controlar Kirby como um cozinheiro atendendo pedidos.
- Waddle Dee Cinema: um ambiente para assistir as cutscenes desbloqueadas durante o jogo.
- Kirby’s House: a casa do Kirby, em que você pode descansar para recuperar sua vida gratuitamente (e desbloquear uma cutscene extremamente fofa) e acessar um album de fotos, que na verdade contém as capas de diversos jogos anteriores da franquia.
- Waddle Dee-liveries: uma espécie de correio, que possibilita a inserção de códigos para desbloquear diversos itens. Clique aqui para conferir uma lista completa de códigos descobertos até o momento.
- Gotcha Machine Alley: conforme o progresso, diversas máquinas de brindes ficam disponíveis para serem utilizadas, trocando moedas por cápsulas de miniaturas dos personagens e estruturas do jogo (similar aos colecionáveis de Yoshi’s Crafted World).
- Wise Waddle Dee: como o próprio nome sugere, é um Waddle Dee sábio, que fica logo no centro da cidade. Ao interagir com ele, você tem acesso à diversas informações como a quantidade de inimigos derrotados e projetos de melhoria de habilidades deixados para trás.
- Fishing Pond: uma área no extremo lado direito da cidade, ao lado da casa do Kirby, onde você pode pescar, trocando peixes por moedas.
- Tilt-and-Roll Kirby: uma barraquinha de mini game em que você utiliza os controles de movimento do switch para levar uma bolinha, sem deixá-la cair, até o final de um labirinto.
- Waddle Live! Corner Stage: uma banda de Waddle Dess que fica ao lado do cinema, onde você pode selecionar as faixas da trilha sonora do jogo para ouvir.
TRILHA SONORA
Falando em trilha sonora, se você já teve contato com jogos anteriores de Kirby com certeza sabe que a essa é uma assinatura especial da franquia. Nesse sentido, a característica de The Forgotten Land como uma aposta segura se reassume tão forte, que particularmente eu senti falta de um trabalho mais volumoso de adaptação da trilha sonora de Kirby para o universo cuja temática é o abandono e a decadência.
Causa uma pequena estranheza tirar Kirby do planeta Popstar, onde tudo é colorido e espacial, e colocá-lo na Terra Esquecida, onde por 10, até 15 segundos no começo de cada fase a tensão logo explode em uma trilha de odisseia espacial, fazendo com que uma característica da franquia Kirby muitas vezes soe como um fator que destoa do ambiente.
RESUMO:
Kirby and the Forgotten Land é um salto enorme ao ser comparado com seu antecessor, Star Allies, que pode ser colocado ao lado de grandes títulos da franquia, trazendo desafios equilibrados, lutas sensacionais e elementos extremamente criativos. É uma aposta segura da Nintendo, que não fugiu muito das características de Mario Odyssey, mas que também funciona para mostrar que a bola rosa mais fofa do mundo dos jogos ainda tem muito potencial para ser trabalhado em três dimensões.
Apaixonado desde sempre por jogos, filmes, séries, animes e quadrinhos, pai de dois gatos (Bruce Wayne e Zoe Maria) e com uma rotina quase impossível de acompanhar.
“Acreditar não é uma escolha, mas sim uma convicção.” – Clone Wars, S01E02