Quatro anos após grande reformulação na franquia, Kratos retorna aos consoles da Sony para colocar um fim a sua interação com a mitologia nórdica em God of War Ragnarok, quinto jogo da linha principal da franquia. Esse que é tão esperado por possivelmente dar um fim ao tão amado protagonista da série.
God of War Ragnarok foi anunciado em 2020, com data de lançamento para 2021, mas que foi adiada e chegou para todos no último dia 9 (novembro de 2022). O jogo é indiscutivelmente um dos mais aguardados do ano, se não o mais aguardado, principalmente por ser de uma franquia tão amada e com o recente sucesso do seu retorno. Só que o marketing da Sony ultimamente não tem agradado uma grande parcela dos fãs e com Ragnarok não foi diferente.
Por muito tempo, os fãs ansiavam por novidades do jogo, novos trailers, novo gameplay, até mesmo um State of Play dedicado ao jogo, coisa que aconteceu com outros jogos importantes da Publisher. Mas nada disso ocorreu, o que gerou uma certa apreensão em todos. Porém, aos poucos foram começando a sair novos conteúdos, e como de costume, uma parcela dos fãs não ficou muito feliz.
Parece que está na moda hoje em dia para os “gamers” reclamar de tudo, sem contar a questão do flame war que está se tornando cada vez mais ridícula, e digo isso expressando a minha opinião pessoal e não a do site. Após os poucos vislumbres do jogo, alguns falaram que o jogo parecia apenas uma DLC do jogo anterior, e é com extrema satisfação que eu pude atestar que eles não poderiam estar mais errados.
Godo of War Ragnarok é tudo aquilo que uma sequência digna tem que ser, ele expande o universo, traz muitas novidades de jogabilidade, novos personagens, novos inimigos, uma história emocionante e um desfecho lindo. Digo e repito, God of War Ragnarok é uma sequência exemplar e para mim é o melhor jogo do ano, disparado.
Algumas pessoas podem considerar o Elden Ring o GOTY desse ano, e não tiro a razão, mas infelizmente não é o tipo de jogo que me atrai. A sequência de A Plague Tale também é um jogo muito bom, que me faz refletir bastante, mas acredito que o GOW é superior pela proporção que o jogo possui, o que é compreensível visto que se trata de um estúdio bem maior.
Mas deixamos isso para o The Game Awards, hoje discutiremos o que faz God of War Ragnarok ser esse jogo que foi tão elogiado acima, e vamos começar pela sua história, que aposta muito nas relações entre os personagens e principalmente no amadurecimento dessas relações. A relação de pai e filho que conhecemos no primeiro jogo (da mitologia nórdica) tem novas camadas no segundo jogo, gerando alguns conflitos entre pai e filho, que agem de maneiras diferentes, mas com um mesmo objetivo: proteger ao outro.
[SPOILERS DO JOGO DE 2018] Como pudemos ver no final revelador do jogo anterior, uma profecia previa a morte de Kratos, e sabendo isso, ele procura treinar Atreus para que ele seja capaz de sobreviver sem o pai. Ao mesmo tempo que Atreus, se descobre Loki, tenta evitar que essa profecia acontece, evitar que seu pai morra. Ambos buscam esse mesmo objetivo, um procurando proteger ao outro, porém, essa diferença de abordagem acaba fazendo a relação dos dois dar uma estremecida.
Além de prever a morte de Kratos, a profecia previa também o Ragnarok, fim do mundo nórdico, sendo esse mais um problema do qual os protagonistas precisam lidar. A história do jogo é, ao mesmo tempo que muito intimista, também muito grande em proporção. Em um dos vídeos publicados pela PlayStation, um dos desenvolvedores diz que eles se inspiraram muito nos jogos da trilogia anterior, no sentido de ser épico, e isso é totalmente visível aqui. É uma história que consegue unir momentos épicos de tirar o fôlego com momentos emocionantes a ponto de fazer algumas lágrimas escorrerem. [FIM DO SPOILER]
A relação entre o Kratos e Atreus é de fato o ponto central no jogo, mas ao longo da jornada, conhecemos uma grande quantidade de personagens, cada um mais interessante que o outro, e que criam relações muito bem estabelecidas, com um tom de dramaticidade (que não poderia faltar, é claro) que deixa tudo mais emocionante e pesado sentimentalmente falando.
No jogo, temos o retorno de alguns personagens que conhecemos no jogo anterior, como Sindri, Brok, Mimir e Freya, mas também temos a introdução de alguns novos como Týr, Angrboda e os próprios Thor e Odin, entre muitos, mas muitos outros personagens. E mesmo com uma quantidade de personagens maior, em nenhum momento parece que existem em excesso pois cada um deles foi escrito de maneira belíssima, tendo cada um deles objetivos e ambições bem definidos e relações que o tornam mais humanizados, desde os personagens mais coadjuvantes até aqueles mais importantes para a história.
Ao mesmo tempo que tem toda essa gama de personagens e interações, temos um universo ainda maior em relação ao jogo anterior. Nele passamos em cada um dos nove reinos do mundo nórdico e enfrentamos as mais variadas criaturas. A junção de todas essas coisas culmina em um jogo muito emocionante e cheio de coração, que consegue ao mesmo tempo que nos tocar, trazer momentos épicos que só a franquia God of War consegue proporcionar.
God of War Ragnarok traz o ápice da franquia, tanto em proporção quanto em história, com personagens memoráveis e uma relação complexa e madura com cada um deles, sendo maior e melhor do que qualquer jogo da franquia e do que muitos jogos disponíveis no mercado. Mas que a história é boa já está entendido, certo? E então em relação a jogabilidade? É tão boa quanto? Ragnarok é:
Uma aventura épica em todos os sentidos
E isso inclui a sua jogabilidade, que já era muito boa no jogo anterior, mas que consegue ficar ainda melhor nesse novo jogo da franquia. Como já dito, passamos por todos os nove reinos, e cada um deles é diferente e único, com sua ambientação, fauna e flora característica, o que contribui e muito para a imersão naqueles ambientes. É um trabalho de ambientação muito bem conduzido pela Santa Monica, com cenários autênticos e lindos e casa um com suas particularidades.
Por exemplo, Vanaheim é um ambiente bem denso em relação a vegetação, cheio de árvores e plantas, algumas delas “agressivas”, o que torna o cenário, um dos inimigos naquele ambiente. Já em Alfheim, encontramos um terreno mais desértico, mas que se encontra no meio de uma guerra entre os elfos luminosos e os elfos negros. Em Svartalfheim encontramos algumas vilas do anões, Nifelheim ambientes mais gélidos, enquanto Muspellheim ambientes cheio de lava e fogo, e assim por diante.
Cada um dos mundos tem sua ambientação primorosamente detalhada, e um ponto que está bem mais impressionante que o jogo anterior é a vida que encontramos neles. E não estou falando dos inimigos ainda, digo a vida selvagem que encontramos no mapa, o que inclui os animais que vemos neles. A quantidade de vida selvagem encontrada é impressionante, com diversas espécies de animais, cada um com seu próprio design muito bem modelado. Algumas espécies podem ser encontradas em mais de um dos mundos, mas com suas particularidades que remetem ao mundo que se encontram, porém, grande parte deles é exclusiva dos seus próprios mundos e refletem bem aquilo que o mundo transpassa visualmente.
Já está entendido que os mundos estão mais únicos e detalhados, mas outro fator muito importante é que os mapas estão ainda mais exploráveis. Existem alguns mapas maiores que os outros, mas todos eles escondem segredos que valem a pena serem explorados. Tanto porque a exploração é divertida quanto por sermos verdadeiramente recompensados pela exploração.
Ao explorar, recolhemos recompensas como itens colecionáveis, muitos que contam mais sobres as histórias daquele universo ou alguns easter eggs bem interessantes, podemos encontrar também baús que possuem diferentes tipos de raridades, podendo encontrar neles desde dinheiro até itens de upgrade.
Se cada mapa tem tipos exclusivos de animais, o mesmo pode ser dito dos inimigos, e a variedade dos inimigos é impressionante, a ponto de, se você só for jogar a história do início ao fim, ignorando as missões secundárias, é provável que você não veja 1/3 dos inimigos que o jogo possui. O que é mais uma razão para explorar, já que temos um bestiário, e muitos gostam de completá-los, mas também vale a pena para enfrentar os mais variados tipos de inimigos.
Cada inimigo é totalmente diferente um do outro, seja em seu visual, tamanho, força e estratégia para derrotá-lo. Cada mundo também possui seus tipos de inimigos característicos, que faz com que estejam em harmonia com o cenário, influenciando positivamente na imersão do jogo. Não satisfeitos pela grande quantidade de inimigos, ainda temos algumas variações que faz com que a quantidade de encontros diferentes seja ainda mais vasta.
E essa incrível variedade de inimigos vale tanto para aqueles mais “simples”, quanto para os chefes e subchefes disponíveis no jogo. Cada um deles muito bem trabalhado para tornar as batalhas mais divertidas e variadas. Enfrentamos desde inimigos humanoides que ocupam parte da tela, até criaturas, tanto humanoides quanto não, que ocupam a maior parte da tela e até mesmo toda ela. Falando em combate, Ragnarok é simplesmente
O God of War definitivo
Por diversos dos fatores já citados, como sua belíssima história, ambientação de encher os olhos e variedade de inimigos, mas outro ponto que pode ser tocado é nas possibilidades de gameplay que o jogo possui. Diferente do jogo de 2018, onde teve uma mudança drástica na jogabilidade, o que gerou a necessidade de adaptação, nesse jogo não é necessário esse tempo de adaptação, o que possibilitou explorar novas possibilidades.
A começar pela árvore de habilidades do Kratos, que possui uma grande quantidade de novos movimentos e melhorias de status, que podem ser ativados tanto ativa quanto passivamente, ou seja, não precisa pressionar nenhum botão para que funcione. Mas também é possível desbloquear alguns combos mais complexos para aqueles fãs mais saudosos da franquia. Cada uma das armas disponíveis tem sua própria árvore de habilidades, com três subdivisões, onde uma foca no combate em si, outra no combate a longa distância e outra no corpo a corpo. Também é possível desbloquear habilidades para os companions que temos no decorrer do jogo.
O escudo é uma parte que ficou ainda mais importante nesse jogo, diferente dos outros jogos da franquia que podiam ser finalizados sem nem ao menos utilizar o escudo, em Ragnarok sua utilização é quase que obrigatória em alguns casos, tendo ataques que só podem ser evitados por meio dele. Mas com essa necessidade de utilização, há também uma maior complexidade nele, com a possibilidade de escolher diferentes tipos de escudos que agem de diferentes formas nos inimigos.
Além do escudo, temos de volta o machado Leviathan e as Lâminas do Caos, e cada um desses itens pode ser aprimorada, além de que possuem alguns itens complementares, que dão status diferentes as armas além de aumentar ou diminuir seus atributos, e cada um desses itens complementares podem ser também aprimorados. Além disso podemos atribuir algumas “magias” que melhoram muitos aspectos e status das armas e escudos.
[SPOILER DE GAMEPLAY] Temos a introdução de uma nova arma chamada de Lança Draupnir, sendo, como o próprio nome diz, uma lança, que introduz uma jogabilidade totalmente diferente no jogo. Diferente do machado e das lâminas que possuem habilidades dos elementos gelo e fogo, respectivamente, a lança tem como elemento o vento.
Outra grande variação que encontramos no jogo é que agora temos muitos momentos em que controlamos o Atreus, que traz uma jogabilidade muito mais rápida e ágil, além de ter a capacidade de utilizar arco e flecha, que também são responsáveis por lançar algumas magias no decorrer do jogo. [FIM DO SPOILER]
Cada uma das armas podem ser utilizadas além dos momentos de lutas, sendo responsáveis por liberar alguns caminhos que só podem ser acessados por meio delas. Vamos aprendendo novas habilidades no decorrer do jogo que vão possibilitando acessar novas áreas que possamos nas fases, mas que naqueles momentos não estão acessíveis, o que gera um fator de replay interessante.
No mais, temos tudo aquilo que já conhecemos na franquia, podemos dar golpe fraco e forte, nos defender utilizando o escudo, desviar de ataques de inimigos e solicitar que os nossos companions ataquem também. Além disso, como já dito, há uma variedade de combos que podem ser utilizadas para causar um estrago maior no inimigo.
Um deslumbre visual e sonoro
Como já dito, a ambientação é muito bonita, cheio de ambientes muito bem detalhados, e isso é facilitado pelo fato de o jogo possuir gráficos muito belos e ótimas texturas. O jogo pode ser jogado em um modo que prioriza a qualidade gráfica e um que prioriza o desempenho, tendo também um modo complementar para aqueles que possuem uma TV ou monitor com tela de alto desempenho de frames, esse modo funcionando de maneira separa aos dois citados.
Apesar de ser muito bonito, não é aquilo que se esperaria de um jogo next-gen, e de fato ele não é por também estar disponível no PS4, o que limita um pouco tudo aquilo que ele pode oferecer. Mas é um jogo que está longe de ser feio, muito pelo contrário, é um dos jogos mais bonitos do ano, com modelos muito bem trabalhados.
A atuação no jogo também é muito boa, principalmente levando em consideração o excelente grupo de dubladores que fizeram parte do jogo. É com facilidade que pode ser dito que God of War Ragnarok tem a melhor dublagem já feita, e o trabalho dos atores originais também é muito bom, sendo bem possível de render prêmios futuramente.
Assim como no primeiro jogo, aonde vamos do início ao fim de um plano sequência, aqui temos a mesma coisa, porém, dessa vez com um diretor diferente. É perceptível o fato da mudança do diretor pois é possível ver, para mim que sou meio chato em relação a fotografia, a falta de algumas sutilezas na câmera do jogo, que tínhamos no jogo anterior. Mas isso não é demérito do diretor atual pois ele compensa esse fato exibindo algumas cenas de um grau de complexidade impressionante, e tudo fluindo de uma forma muito fluida e suave.
Agora, além dessas movimentações de câmera mais inventivas e complexas, em alguns momentos, vemos uma quantidade enorme de elementos ao mesmo tempo na tela, e ainda assim tudo ocorre de maneira bem fluida e satisfatória, não dando espaço para nenhum tipo de confusão que facilmente poderia ocorrer.
A trilha sonora é também um ponto forte, que já era belíssima no jogo anterior e que se mantém muito bem aqui. Temos de volta alguns temas do jogo anterior, mas em alguns momentos ouvimos também alguns acordes da trilha sonora da trilogia original, que traz ao mesmo tempo que uma sensação de épico, também uma nostalgia muito boa.
As músicas em alguns momentos trazem um pesar sem perder aquele épico característico que a cena precisa. Em outras palavras, a trilha sonora é simplesmente sensacional, e isso pode ser dito tanto dos momentos que ela está presente, quanto nos momentos que há a ausência delas, sendo isso equilibrado de maneira muito satisfatória.
God of War Ragnarok entrega tudo aquilo que prometia
É um jogo com um grande coração, que traz uma história ainda maior que a do primeiro jogo proporcionalmente, ao mesmo tempo que é mais intima e emocionante. É um jogo que sabe trabalhar bem seus personagens e as relações que têm entre si, introduzindo ótimos personagens ao mesmo tempo que dá novas camadas aqueles que já faziam parte da história.
É um jogo maior que o anterior em todos os sentidos, seja trazendo um mundo maior e mais explorável, uma variedade de inimigos ainda maior e uma jogabilidade que evolui muito o que a franquia já havia proporcionado. God of War Ragnarok é uma carta de amor aos fãs e um jogo que não pode faltar na sua casa se você possui um PlayStation, vale mais que a pena o jogar e apreciá-lo, dando o tempo que ele merece. Garanto que vai valer a pena!
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