Prefácio
I
O primeiro contato que eu tive com Elvis Presley foi no filme Lilo e Stitch (2002) e eu sempre pensei que era alguma coisa que os velhos gostavam. Quando eu cresci, eu comecei a me identificar como velho e comecei também a me interessar por música.
Quando você é criança, você acaba escutando música de criança e música que seus familiares escutam. Eu cresci em uma casa bastante musical e eclética, e posso dizer que quem me apresentou minha banda favorita, Os Beatles, foi meu pai quando eu tinha uns 13 anos.
Mas o Elvis Presley sempre foi aquela figura iminente que rondava tudo que eu sempre ouvia. Eu sempre gostei de filmes biográficos dos músicos que eu amo. Eu passei horas vendo filmes diferentes sobre os Beatles, e uma coisa que sempre me chamou atenção é a idolatria que o John Lennon tinha pelo Elvis Presley.
II
A primeira vez que eu parei pra escutar uma música Elvis Presley foi quando eu tinha uns 15 anos. A música em questão foi Heartbreak Hotel. Era de fato uma música simples. O instrumental lembra muito o Chicago blues, com instrumentos mais altos como o piano, guitarra elétrica e o Backbeat da bateria.
Eu já tinha ouvido essa exata música em Lilo e Stitch mas nunca tinha prestado atenção nela. O fato é que Elvis Presley não era o rei do rock pela sua virtual excelência musical erudita, mas era pela demonstração de simplicidade e emoção, o que as pessoas chamavam de Soul.
Luhrmann
Antes de tudo eu gostaria de falar do diretor Baz Luhrmann, e sua grande visão da obra de Presley em seu novo filme Elvis (2022). Luhrmann é conhecido por suas inovações, frescor e releituras dos clássicos ou de épocas passadas. Isso pode ser visto perfeitamente nos seus três filmes mais conhecidos, respectivamente Romeu+Julieta (1996), Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001) e O Grande Gatsby (2013). O padrão desses filmes é reescrever histórias clássicas ou dar um twist moderno à uma história real (no caso de Moulin Rouge).
Elvis não é diferente. O que Luhrmann faz com essa história é de fato uma epopéia, uma história de tratamento quase mitológico da figura mais reconhecível da história estadunidense, o homem que é basicamente a face dos anos 50, 60 e 70 na cultura norte-americana. E ele faz isso de uma forma inexplicável em pequenos detalhes. Então vamos primeiro explicar algumas coisas.
Elvis the pelvis
Elvis Aaron Presley nasceu em Tupelo, Mississipi em 1935 em uma comunidade predominantemente negra. Naquela época as leis Jim Crow estavam em alta efetividade no país inteiro, mas principalmente no sul.
Não é nenhum mistério que o blues e o jazz nasceram no delta do Mississipi, nas comunidades negras desses locais. O sul dos Estados Unidos foi a casa dos grandes artistas do gênero blues como B. B King, Little Richard e Elvis.
A música gospel negra americana tem grande influência nesses ritmos, assim como os negro spirituals, músicas de cunho religioso que eram usadas pelos escravizados principalmente como forma de expressão cultural, e algumas com instruções de rotas de fulga dos estados ecravistas do sul.
Elvis cresceu pobre na época da grande depressão. Muitas pessoas que viveram nessa época dizem que o evento foi o grande igualador. Nas favelas viviam pretos, brancos, médicos, advogados e faxineiras. Todas pessoas que perderam tudo para a recessão de 1928.
Vivendo nesse contexto em uma comunidade mista, Elvis Presley cresceu mergulhado na cultura Afro-Americana e teve contato tanto com o blues quanto com o Black gospel revival.
II
Quando Elvis foi apresentado ao coronel Tom Parker, o homem pensava que ele era preto. Naquela época havia uma distinção iminente entre música de branco e música de preto, e isso era regra até pelas leis de segregação. Alguns dizem que o Rock’n’roll era apenas o blues propagado para brancos.
O ano era 1954 e Elvis tinha lançado um single chamado That’s all right por uma pequena gravadora chamada Sun Records em Memphis, e essa gravação fez bastante sucesso local e chegou aos ouvidos do cantor de música country Hank Snow que achou o som interessante o suficiente para abrir o seus shows na companhia itinerante do coronel Tom Parker. Snow começou como empresário do jovem rei, mas logo o coronel tomou total controle do talento.
Depois disso, Elvis assinou o contrato com o Parker, que lhe dava 50% de todo seu rendimento. E eles começaram o tour nacional que deu o pontapé inicial para o rei ser coroado.
III
Elvis sempre foi uma figura controversa, no início de sua carreira, ele era dado como impróprio e sujo, espalhando música que não era aceitável para a família tradicional estadunidense. Hoje em dia muitas pessoas o acusam de apropriação cultural
O Filme
Elvis(2022) certamente foi uma surpresa. Ele não segue uma linha parecida com a maioria dos biopics. Ao invés de contar a história como um artigo de wikipedia, o diretor fez um esforço para dar ao filme uma roupagem épica, quase mitológica da história do rei do rock.
O filme é contado na perspectiva do coronel Tom Parker (Tom Hanks), delirante em seu leito de morte, enquanto ele se lembra do passado. Isso dá ao filme e ao personagem do Elvis (Austin Butler), uma característica de algo maior que a vida. Como se o coronel se lembrasse de Elvis não como um homem, mas como um espelho de si próprio.
Apesar de ser muito interessante, o filme está longe de ser perfeito. A atuação de Tom Hanks é bastante estranha, como se ele estivesse fazendo tudo sem muita vontade.
Em contrapartida, Austin Butler foi excepcional em sua depicção do rei. Ele conseguiu escapar da armadilha de ser apenas mais um imitador caricato do Elvis, e deu vida a um personagem vivo e profundo.
O filme se arrasta em alguns momentos, e sua edição frenética o faz se tornar um tanto cansativo de se assistir. Apesar disso, sua estrutura é muito bem definida e dá para entender claramente a proposta do diretor.
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Crítico e colunista. Nerd, gamer, músico, ator. Apaixonado por Doctor Who, Marvel e Magic: the gathering.
nascido no ano 2000