The Medium chega como o jogo mais ambicioso de um estúdio com alguns bons jogos no currículo, mas será que ele atende as expectativas?
Lançado originalmente para Xbox Series S|X e PC, e que recentemente recebeu uma versão para PlayStation 5, da qual analisamos, The Medium se trata de um jogo survival horror desenvolvido pela Bloober Team e publicado pela NA Publishing. O jogo em questão foi anunciado como projeto mais ambicioso de um pequeno estúdio que possui muitos projetos, porém, esse jogo em específico seria o ápice de tudo o eu eles haviam criado, mas será que é mesmo isso o que acontece? No decorrer dessa análise, falaremos melhor sobre isso.
Como o próprio nome diz, em The Medium, controlamos uma jovem médium chamada Marianne, cuja maior habilidade é poder interagir tanto com o mundo dos vivos como com o mundo dos mortos e essa habilidade é o principal motor para a inovação que eles trazem com o game.
Um Breve Histórico…
No gameplay, essa habilidade se traduz em um mapa onde existem duas realidades existindo no mesmo momento, na mesma tela e sendo renderizada ao mesmo tempo. Apesar de ser o mesmo cenário sendo visto duas vezes ao mesmo tempo, os dois possuem uma estética totalmente diferente entre si, sendo um mais realista e outro mais lúdico, totalmente inspirado em Silent Hill ou mesmo na estética de Zdzislaw Beksinski, de onde veio a inspiração para SH.
Quando se fala que o jogo se inspirou em Silent Hill, é quase literalmente falando, seja na estética, história, gameplay e principalmente na trilha sonora, onde até mesmo o compositor, Akira Yamaoka, é o mesmo da franquia. Sabendo dessa clara inspiração e olhando o jogo em si, é perceptível que ao mesmo tempo que a inspiração seta o tom do jogo de uma maneira geral, ela também faz o jogo pecar de diversas maneiras.
A Bloober Team foi o estúdio responsável por trazer a vida alguns jogos de terror que possuem um reconhecimento considerável com a franquia Layers of Fear e jogos como Observer e Blair Witch. Praticamente todos os jogos em si possuem a mesma gameplay, se trata do estilo de jogo eu podemos chamar de Walking Simulator, onde somente andamos e exploramos o cenário enquanto a história decorre sem muita interação.
Essa foi a área que o estúdio se “especializou”, e apesar de não serem jogos impressionantes em si, se trata de jogos bem competentes naquilo que se propunham a fazer. Porém, The Medium tenta mudar um pouco a perspectiva mantendo o cerne do estúdio, ao mesmo tempo que trazendo algumas inovações.
Jogabilidade
E em perspectiva é que encontramos a grande inspiração em Silent Hills do jogo, pois esse é o primeiro jogo da Bloober Team que eles saem da primeira pessoa e passa para terceira, porém, não foi apenas isso que mudou. O jogador agora não tem mais controle da câmera, se tratando de uma câmera fixa cujos ângulos de visão são programados, assim como os Silent Hill’s mais antigos e jogos de outras franquias como Resident Evil e Alone in the Dark. E esse visual, apesar de antiquado, chama muita atenção, principalmente daqueles mais saudosistas. Entretanto, trazer esse aspecto não é suficiente se ele não for bem-feito, e esse é um ponto bem questionável em relação ao jogo.
Nos momentos iniciais do jogo, temos ângulos de câmera bem interessantes, que pareciam indicar para um jogo com uma direção incrível, mas infelizmente, não é o que acontece. No decorrer do jogo, os ângulos se tornam confusos, trazendo uma confusão na perspectiva do jogador de forma que, por exemplo, não dê para saber se um objeto está longe ou perto de acordo com determinado ângulo de câmera.
Indo para a parte final, as coisas melhoram um pouco em geral, e essa mudança tira um pouco daquilo que para mim era uma coisa muito legal que aconteciam nos outros jogos, que era a mudança dos cenários em “tempo real”, que aqui foi substituída por dois cenários iguais ao mesmo tempo que diferente.
The Medium era para ser o jogo mais ambicioso da Bloober Team, e ele de fato é, mas ao mesmo tempo que ele evolui em algumas áreas, ele regride em outras e esse é um sentimento que persiste em todo o decorrer do jogo. O início do jogo, tecnicamente, é muito bonito, não apenas os ângulos de visão estão bem “inspirados” como o cenário está bem bonito e detalhado, de fato uma evolução.
Porém, depois disso, o jogo fica em um cenário muito repetitivo, não somente por irmos e voltarmos no mesmo local várias vezes, mas visualmente tudo parece muito igual, nos dois mundos, voltando a ser impressionante, novamente, na parte final do jogo, que pode se dizer tranquilamente que é a melhor parte em si, mas falaremos disso mais à frente.
História
Na história, Marienne recebe a ligação de uma pessoa chamada Thomas, que a leva para um resort abandonado chamado Niwa, onde no passado ocorreu um massacre. A história gira em torno da protagonista tentando encontrar o Thomas ao mesmo tempo que descobre tudo o que aconteceu nesse lugar e como tudo isso está ligado com ela e com a sua vida.
Não é uma história ruim, possui diversos plot-twists inesperados, mas a sensação é que ele foi empurrado com a barriga para ter uma maior duração. A dublagem dos personagens é bem-feita, mas existem alguns que parecem que foram simplesmente jogados ali só para alongar o jogo, o personagem dublado pelo Troy Baker é um exemplo disso.
E o que podemos fazer no jogo? Bom, a resposta é bem simples. Na maior parte do jogo nós andamos e andamos, como sempre aconteceu com os jogos anteriores do estúdio. Assim como os jogos antigos, também podemos interagir com alguns objetos que trazem consigo alguns diálogos que explicam um pouco mais a história. Podemos correr, agachar e segurar a respiração, porém, a inovação que o jogo traz é o “segundo mundo” e é nele que encontramos algumas novidades.
Nele nós podemos sugar e utilizar luz como fonte de energia para acionar e resolver alguns puzzles, podemos também usar essa energia como escudo, usar para mover objetos em alguns momentos e podemos nos “separar” do mundo real por alguns instantes, pois todos os movimentos que o personagem faz no mundo real, são replicados no mundo dos mortos, e apenas quando nos separamos que as coisas mudam um pouco.
Evolução ou Regresso?
De certa forma, The Medium mantém o cerne dos jogos anteriores com algumas evoluções, mas existe um aspecto em específico que ele não evoluiu, entretanto, essa era uma evolução natural e a falta dela pesa muito no jogo. Estamos falando do combate do jogo, que apesar de existirem alguns inimigos no decorrer do jogo não enfrentamos nenhum diretamente. Em certa parte, o jogo até flerta com um combate, onde defendemos alguns golpes até o inimigo “morrer”, mas não é suficiente, pois continua seguindo a mesma mecânica de sempre, que é andar.
O combate no jogo faz uma falta imensa e poderia dar uma dinâmica que faz falta no jogo. É um jogo repetitivo, apesar de sempre aparecer algumas novas mecânicas no decorrer, não muda o fato de ter a sensação de ser uma constante repetição. Outra coisa é a dificuldade e complexidade do jogo. Em alguns momentos, precisamos nos esconder e passar dos inimigos sem que eles nos vejam. Nesses momentos não existe dificuldade alguma para conseguir.
O jogador pode simplesmente ficar parado no mesmo lugar e esperar o inimigo se mover para andar, movimentos esse que também são curtos e os mesmos sempre. Apesar de estarmos sendo perseguidos, essa falta de ímpeto do inimigo não traz a sensação de perigo e urgência que um jogo survival horror deveria trazer.
Graficamente, o jogo é bonito, principalmente se levarmos em consideração que é de um estúdio indie, e apesar de possuir ambientes bem repetitivos, são bem-feitos. É o primeiro jogo do estúdio em terceira pessoa, então é também a primeira vez que o estúdio teve que lidar com as animações do personagem principal, que em geral não são ruins, mas que ainda tem espaço para melhorar principalmente se levarmos em consideração as expressões faciais.
Conclusão
Então, finalmente chegamos à parte final do jogo, que para mim foi a melhor parte do jogo sem sombras de dúvidas. A história e o final dela são questionáveis, mas dão um fim ao enredo decentemente, só que existe um ponto que faz total diferença. A trilha sonora, que essa sim é o maior ponto positivo que se pode encontrar em The Medium. Na parte final principalmente, ela está mais presente e ela em si é capaz de mascarar todos os defeitos que vimos de tão boa que ela é. Aliado com o cenário final e os ângulos de câmera mais “inspirados”, a parte final, sem nenhuma dúvida, é a melhor parte.
E é aí que temos que botar na balança o fato de que uma pequena parte do jogo que dura alguns minutos é a melhor parte de um jogo que dura algumas horas. Parece que algo está errado, pois não deveria ser assim. The Medium evolui em alguns pontos tudo aquilo que o estúdio já fez, porém, regride em alguns outros pontos. Acaba que os pontos negativos ofuscam os positivos, que existem, mas acabam passando despercebidos por conta daquilo que o jogo traz de ruim. Todavia, o estúdio, pode aprender com seus erros e evoluir em seus próximos projetos, e ele tem total capacidade disso pois talento eles possuem. Agora, é apenas esperar para saber o que o futuro trará para a Bloober Team.
The Medium está disponível para Xbox Series S|X, PC e PlayStation 5.
*Key cedida para análise.
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